11 de fevereiro: Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência

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Antes de começar a discorrer aqui sobre fatos, opiniões e referências, eu quero que você pare, pense e me responda (essa vai especialmente para os homens): a sua referência profissional, aquela pessoa que quando criança você olhava e dizia: “Eu quero ser essa pessoa quando crescer”, é uma mulher? Feito isso, vamos aos fatos, muito mais que minha opinião… No último dia 11 de fevereiro, celebramos o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, e esse deve ser o momento em que você está se perguntando: “Ah, mas por que não temos um dia dos homens na ciência?”. É nesse momento que eu vou te introduzir aos fatos, meu caro leitor.

Todos já devem ter ouvido falar da Drª. Marrie Currie, primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel de Física, mas o que você não deve saber é que ela “viralizou” na imprensa sensacionalista da época por ter tido um possível envolvimento romântico, já viúva, com Paul Langevin, esquecendo de citar que além de toda a contribuição científica, ela também criou um serviço móvel de atendimento radiológico para facilitar a extração de estilhaços dos feridos na Primeira Guerra Mundial.

Infelizmente, a Drª. Currie não foi um caso isolado. Jocelyn Bell, que durante o seu doutorado aos 24 anos descobriu os pulsares, chocou tanto a academia por sua precocidade que eles decidiram conceder o Nobel apenas aos seus superiores e eu poderia passar muitas linhas aqui discorrendo sobre inúmeros casos semelhantes, mas como adoro estatística, aqui vão alguns dados.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) estima que apenas 30% dos cientistas do mundo sejam mulheres. Aqui no Brasil, elas representam apenas 33% do total de bolsistas em Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e esse número fica ainda pior em algumas áreas, como nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação, onde os homens assinam 75% dos artigos. Esse cenário se modifica na área da saúde, onde as mulheres são responsáveis por um em cada quatro estudos publicados.

Se pararmos para analisar as coisas com cuidado, a estrutura social, o patriarcado, a forma como educamos nossas crianças, principalmente, meninas, são um dos fatores que podem justificar esses números. Segundo a professora de Física Experimental e conselheira da Universidade de Cambridge, Athene Donald, os estereótipos de gênero e os brinquedos que a criança recebe está atrelado ao universo científico, enquanto meninas ganham bonecas, panelinhas, maquiagem e acessórios de cabelo, objetos ligados ao cuidado, passividade e vaidade. Os meninos estão ganhando legos, kits de química e maletas de mecânico.

Seguindo a mesma linha, estudos realizados por três universidades dos Estados Unidos com mais de 400 crianças entre cinco e sete anos mostraram que aos seis anos, meninas acreditam que “só os meninos podem ser gênios” e segundo os autores, o fator responsável por esse resultado está relacionado ao meio em que a criança vive. Mesmo quando conseguem transpor todas essas barreiras ao longo da vida e ingressar na carreira científica, manter-se e evoluir nela não é tarefa fácil, “[…] quando se é minoria não te escutam, te ignoram, e quase sempre se está sozinha”.

Foi o que a cientista espanhola Joaquina Álvarez relatou. Durante a pandemia da Covid-19, o grupo Parent in Science mostrou que com a suspensão das aulas das crianças e os cientistas trabalhando de casa, os editores de revistas de vários países começaram a afirmar que nunca haviam visto uma queda tão brusca na submissão de artigos científicos por mulheres como aconteceu na pandemia. O interessante, nesse caso, é que o mesmo não aconteceu com os homens. Mais do que celebrar o Dia das Mulheres na Ciência, lembrar da Drª. Currie e dos poucos e grandes ícones femininos, é preciso que nós, como homens, assumamos nosso papel e nossa responsabilidade na mudança desse cenário, não apenas como colegas de trabalho, mas como pais, irmãos, maridos, namorados e cidadãos.

É preciso que incentivemos nossas meninas a acreditarem que são inteligentes, e não somente bonitas e meigas. Mostrar que elas podem ser engenheiras, cientistas, que são tão gênias (ou até mais) que os seus colegas meninos, para que num futuro, espero que próximo, possamos superar o vergonhoso número de 97% dos ganhadores de prêmios Nobel na ciência serem de homens para os 50%, pelo menos.

Prof. Dr. Ed Carlos Morais dos Santos
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Ateneu
Doutor e mestre em Bioquímica e Biologia Molecular e graduado em Química Industrial

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