Ser acadêmico do Curso de Psicologia e desejar cuidar do outro independente das diferenças que existem para nos aproximar, é enxergar para além do óbvio. O que é o óbvio? É o discurso que é verbalizado com mais frequência, em diversos âmbitos virtuais ou não, e que independe da sua opinião para existir. Simplesmente acontece, parece até magia, mas não o é. É real. E é sobre isso e para além da obvialidade que precisamos conversar.
Pois bem, todas e não-tod@s despravador@s do vasto e encantador universo da Psicologia, seja você discente, profissional ou simpatizante desta prática, falar sobre os discursos e crimes de ódio que, cada vez mais, vêm sendo proliferados no Instagram, em primazia, mas tal realidade é também recorrente em outras mídias sociais, é um cenário inquietante, biopolítico e necropolítico que precisa da nossa atenção e de muito cuidado.
A impossibilidade de “ser” e de existir, pacificamente, que é vivenciada pela população LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e outros grupos e variações de sexualidade e gênero), se materializa em diversos âmbitos sociais. Um deles vem tomando proporções consideráveis, que é a visibilidade dos discursos de ódio e crimes de ódio que são direcionados a essas pessoas nas redes sociais, frequentemente, aumentando a incidência de violências, exclusão e discriminação delas.
Nas redes sociais, esses corpos supracitados não são vistos como bem-vindos e sofrem violências através de palavras agressivas, verbalizações que denigrem as suas imagens e, respectivamente, as suas identidades, quando não são vítimas de crimes de ódio como genocídios ou sofrem agressões físicas, tendo seus corpos expostos nas mídias. Essas experiências acabam por limitar suas trajetórias acadêmicas, profissionais e reduzem ainda mais seus espaços na sociedade.
Tendo em vista esse cenário criminoso de ódio, preconceitos, abjeção e violência, alguns questionamentos são cabíveis: Por que a população LGBTQIA+ é violentada com frequência? Por que os agressores procuram as redes sociais para manifestar ódio e abjeção com destino a esses corpos? Ainda nessa perspectiva, quando nos deparamos com crimes de ódio tão brutais, incitados pela transfobia e discursos de ódio materializados nas telas e fora delas, parecem apontar que violar de alguma forma essa comunidade não parece ser suficiente, até a morte por si só parece não dar conta do ódio que essas pessoas emanam para essa população.
Assim, pode-se perguntar ainda: o que está tentando ser eliminado durante as incessantes violências diante de um corpo que já é destituído de vida? Para que tanto ódio? O que não está sendo suportado? É a feminilidade? É realmente a existência desse outro, considerado como exótico, ou é a semelhança com o estranho familiar que habita no agressor? Praticar a violência em seus mais diversificados âmbitos com o outro que é marginalizado e destituído de vida, não dignifica, de modo algum, a existência do agressor.
Não é sobre eliminar quem pode ou não ser passível de existir com o mínimo de dignidade possível, é sobre mudança, uma vez que ninguém habita a pele de ninguém. Se o outro não te representa, represente a si mesmo com o que há em ti. Para tal feita não precisa exterminar a existência de ninguém, apenas olhar para si mesmo e aprender a suportar-se. É você quem precisa lidar com as suas questões e não o outro. Ocupa-te de ti mesmo e pratica a arte de deixar o outro livre para ser quem ele deseja.
Profª. Iasminny Loiola Teixeira
Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Ateneu
Mestranda e graduada em Psicologia. É psicanalista em formação e pesquisadora sobre as temáticas que envolvem as temáticas de gênero, psicanálise e sexualidade.
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