A sociedade em geral ainda tem muitos preconceitos e dúvidas tanto pela validade nutricional, quanto pela origem dos ovos de granja – aqueles comprados em supermercados – e dos ovos conhecidos como “caipiras”. Até mesmo a categoria médica, muitas vezes, não tem o devido conhecimento, o que acaba direcionando a informações incorretas, reduzindo o consumo desse super alimento rico em proteínas, vitaminas, minerais e gorduras boas, tão importante para a alimentação das pessoas.
Os ovos de granja, também chamados de ovos comerciais ou ovos industriais, são aqueles produzidos em um sistema tecnificado de criação de galinhas geneticamente adaptadas para esse fim. São aves de diferentes raças, que vem recebendo cruzamentos constantes ao longo de décadas de estudo, com o objetivo de se adequarem ao sistema de criação em gaiola, objetivando uma alta produção de ovos, com um baixo consumo de ração, tornando o ovo um alimento rico nutricionalmente e de baixo custo.
Entretanto, esse processo de formação dessas aves de alta performance de produção seguem rigorosamente a fisiologia e bem-estar das aves, onde estas recebem cuidados sanitários extremos e ração com produtos de alta qualidade. Em nenhuma hipótese, como é preconizado pela falta de informação da sociedade, ocorre uso de hormônios ou outros aditivos nas rações que sejam prejudiciais aos seres humanos. Muito pelo contrário, os ovovas de granja são produtos isentos de contaminação por agentes causadores de doenças para os homens, sendo seguros para a alimentação de pessoas de todas as idades.
A produção industrial de ovos segue normas rigorosas do Ministério de Agricultura e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e tem como obrigação a presença de um médico veterinário como responsável técnico pela produção. Outras curiosidades levantadas são referentes à cor da casca e da gema. Os ovos brancos são produzidos por galinhas de penas brancas, enquanto que os ovos vermelhos tem as galinhas de penas marrons como produtoras. Esse pigmento mais escuro também favorece que a casca seja mais resistente a trincas, o que torna esse tipo de ovo mais durável em prateleira; outrossim, as galinhas vermelhas são maiores que as galinhas brancas, e, portanto, produzem ovos maiores que as galinhas brancas. Os ovos vermelhos também são caracterizados comercialmente como mais caros, e isso é explicado que, por serem galinhas maiores, consomem mais ração, ocasionando um custo de produção mais elevado.
Quanto à cor da gema, o pigmento vermelho da pele e pena das galinhas também é responsável pela cor da gema ser um pouco mais escuro que dos ovos brancos. Em comparação com os ovos de galinha caipira, ambos são ainda mais claros, devido à cor da ração, que é composta basicamente por milho e soja, sendo um alimento acinzentado e sem pigmentação. Enquanto isso, a galinha caipira, criada solta, tem acesso à alimentos coloridos, como insetos, frutas e gramíneas, que transferem esse pigmento para a gema.
As galinhas conhecidas como caipiras são aquelas criadas soltas ou semi-confinadas, em pequenas criações rurais. Nem sempre essas criações tem raças definidas, nem acompanhamento sanitário adequado, o que torna um produto susceptível a ter contaminações internas, podendo ocasionar doenças nos homens.
Devido à alta demanda por produtos naturais, a criação profissional de galinhas caipiras se tornou uma realidade, com aves sendo criadas em situação mais análoga à natural. Nessas unidades de criação, as aves se alimentam de ração balanceada, tem acompanhamento médico veterinário efetivo, porém, passam um período do dia soltas, em piquetes com acesso à insetos, frutas e outros alimentos que encontrarem na área. A produção de ovos é menor, e, por isso, o custo também é maior, ocasionando um ovo de valor mais elevado. Também a cor das cascas dos ovos também pode variar, pois vai depender exclusivamente da plumagem das galinhas.
Outra curiosidade advém de os ovos serem ou não “galados”, ou seja, se tem a presença de um galo para ser produzido. As galinhas, sejam de granja ou caipiras, não precisam da presença do macho para produzirem ovos. Apenas para a reprodução para a formação do embrião que gerará os pintinhos. Do ponto de vista nutricional, as pesquisas demonstram que não há diferença nutricional entre os ovos, com a exceção do betacaroteno, que pode ser potencialmente superior nos ovos de galinha caipira, devido os pigmentos existentes na alimentação natural que elas têm acesso. De qualquer forma, devemos ter a responsabilidade de alertar o consumidor quanto à possibilidade de contaminação bacteriana nos ovos caipiras. Estes não devem ser consumidos crus, sendo necessário serem cozidos por, no mínimo, 10 minutos.
Profª. Drª. Márcia Helena Niza Ramalho Sobral
Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Ateneu
Doutora em Biotecnologia, mestre em Ciências Veterinárias, especialista em Avicultura e graduada em Medicina Veterinária
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