A doença respiratória aguda causada pelo SARS-CoV-2 (“Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2”) ocorre através da entrada no trato respiratório, pelo contato com gotículas de secreções (muco nasal, por exemplo) e aerossóis gerados por equipamentos que utilizam turbinas para seu funcionamento. Isso pode ocorrer pelo contato direto com as secreções de pessoas infectadas, tosse ou espirro, ou de forma indireta, através do aerossol em suspensão nos ambientes, ou ainda pelo contato com superfícies contaminadas, levando as partículas ao nariz ou à boca pelas mãos.
Nesse contexto, pacientes e profissionais da Odontologia podem ser expostos a microrganismos patogênicos, incluindo vírus e bactérias que infectam a cavidade oral e o trato respiratório. O ambiente do atendimento odontológico carrega risco iminente de infecção viral devido aos procedimentos que envolvem comunicação face a face com pacientes e a exposição frequente à saliva, sangue e outros fluidos corporais, bem como o manuseio de instrumentos perfurocortantes.
Diante desses novos desafios, a Odontologia, assim quando da descoberta da infecção por HIV, teve que se reinventar. Voltou-se para a literatura e obrigou os profissionais a buscarem formas de aumentar a biossegurança em seu ambiente, tanto para os profissionais, como para os pacientes. Dessa forma, o uso do equipamento de proteção individual (EPI) (incluindo a paramentação e desparamentação corretas) passou a ser fase fundamental do atendimento odontológico. Uso dos óculos e/ou do face shield passou a ser essencial. Uma maior atenção à descontaminação das superfícies dos ambientes odontológicos também passou a ter destaque.
A maior preocupação era (e ainda é) com a dispersão de aerossóis produzidos durante a prática odontológica. Muitos dispositivos foram pensados nesse sentido, mas a eficácia destas barreiras ainda não apresenta um bom nível de evidência na literatura. Um exemplo interessante de dispositivo foi a barreira individual de biossegurança odontológica (Bibo), que consiste em um bastidor acoplado ao filme de PVC e TNT. O estudo consistia em acionar a turbina da alta rotação durante um minuto em uma solução de Lactobacillus casei Shirota, a qual havia sido previamente acrescentada no reservatório de refrigeração de um equipamento odontológico.
Placas de petri contendo ágar MRS foram posicionadas a partir do apoio de cabeça de uma cadeira odontológica nas distâncias de 50, 100 e 150 cm em diferentes ângulos (90 e 0 graus). Na distância de 50 cm, a média (desvio padrão) de Lactobacillus casei Shirota foi de 13.554,59 (493,48) UFC, enquanto a associação Bibo foi de 570,67 (60,54) UFC, estabelecendo uma redução de 96% (p<0,0001). Considerando estes resultados preliminares e o modelo de estudo utilizado, a Bibo se mostrou eficiente em reduzir a dispersão da turbina de alta rotação, o que sugere que o seu uso pode ser uma alternativa para a melhoria da biossegurança em ambiente odontológico.
Em nossa prática clínica, utilizamos o referido dispositivo para os seguintes procedimentos: remoção de aparelhos ortodônticos, tratamentos restauradores e periodontais. A partir de seu uso contínuo, em nossa avaliação, o dispositivo se mostrou extremamente eficaz como barreira na dispersão de aerossóis e reduz a frequência de limpeza das superfícies pós-atendimento. Seguem, abaixo, imagens do dispositivo.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MONTALLI, Victor Angelo Martins et al. Individual biosafety barrier in dentistry: an alternative in times of covid-19. Preliminary study. RGO-Revista Gaúcha de Odontologia, v. 68, 2020.
Profª. Ma. Clarissa Sales de Paula Campêlo
Docente do Curso de Odontologia do Centro Universitário Ateneu
Mestre em Ciências Odontológicas, especialista em Endodontia e em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais e graduada em Odontologia
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