O estágio supervisionado em educação e sua verdadeira função na formação docente

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Na trajetória formativa do (a) docente na graduação, o momento do estágio supervisionado é muito aguardado. O temor, a ansiedade, a dúvida do que pode acontecer nesse momento, envolve o (a) estudante e quando questionado (a) sobre o que de fato é o estágio, a grande maioria define como “o momento de colocar em prática a teoria”. Tal afirmativa aponta diversas problemáticas que se evidenciam nesse período da formação.

O primeiro é a demonstração que em muitos momentos da formação docente as disciplinas são desenvolvidas sem o diálogo direto e próximo com o cotidiano e o estágio em si. Teoria e prática são separadas em “caixas” e sua interrelação ficam apenas no discurso. Essa visão é por demais prejudicial na formação docente, pois mais do que um momento de “colocar em prática a teoria”, o estágio supervisionado é um espaço de experimentação da realidade escolar com o intuito de provocar reflexões nas e das ações pedagógicas.

Limitar o estágio apenas à observação e imitações de práticas é reduzir o potencial dessa atividade. Ao ver a prática como imitação de modelos, fechamos os olhos para a imutabilidade dos contextos e dos indivíduos, pois a realidade imitada não é única na reprodução da realidade. Isso leva a alicerçamos a prática pedagógica em uma visão tradicionalista da educação. Também corre-se o risco em cair no que chamo aqui de “ensinagem” e puro conteudismo, pois aprendizagem real parte de pressupostos e princípios que divergem dessa visão limitada e reduzida da realidade, centrada no professor e na passividade dos (as) estudantes. Além disso, o (a) docente em formação arrisca-se em situações que podem provocar o conformismo e a acomodação em fazer diferente e mais pela educação.

Entender o estágio como uma prática onde ocorre o desenvolvimento de uma instrumentalização técnica é insuficiente. A técnica é importante, mas não dá conta sozinha e de longe é o principal fundamento da ação docente. O reducionismo da prática a treinamentos, oficinas e técnicas fragilizam e limitam uma ação pedagógica consistente e que gere aprendizagem de fato. É preciso que busquemos mais do que a “prática da teoria”, mas a práxis pedagógica. É fundamental que o estágio esteja no eixo de todas as disciplinas, de todas as discussões teóricas no decorrer da formação docente. Encarado como um espaço de reflexões, diálogo e experimentações do cotidiano escolar, o estágio é um berço rico de investigação e pesquisa.

A aprendizagem e ação docente orientada pela pesquisa possibilita ao (à) estudante que está no estágio o desenvolvimento das habilidades de observação, a criatividade, o olhar crítico, o impulso da descoberta e da proposição de resoluções e encaminhamentos pautados em um olhar reflexivo. Conectado à práxis pedagógica, o (a) estudante no estágio supervisionado poderá pensar metodologias e propor recursos didáticos atrelados à demanda e necessidade da realidade encontrada.

Assim, devemos superar a visão do estágio supervisionado como prática do ensino. Vejamos o estágio como produção de conhecimento da ação pedagógica do (a) docente a partir da leitura da realidade, da reinterpretação de práticas, propor novas saídas metodológicas para a superação do status quo do cenário educacional e construir-se como um (a) educador (a) consciente do seu papel social e de sua responsabilidade e compromisso docente.

Prof. Dr. Francisco Jahannes dos Santos Rodrigues
Docente do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Ateneu
Doutor em Educação Brasileira, mestre em Educação e graduado em Pedagogia

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