Os diversos estágios do conhecimento científico e dos domínios tecnológicos permitiram que diferentes fontes energéticas fossem utilizadas ao longo da evolução das sociedades, através de variadas tecnologias de conversão. Neste contexto, o uso dos recursos energéticos foi, e segue sendo, um fator ímpar no processo de suprimento das demandas postas pelas sociedades nos distintos momentos históricos.
A preocupação em torno das questões ambientais, agravadas pelos acidentes nucleares nos reatores de Three Mile Island, em 1979, nos Estados Unidos, mais tarde, em 1986 na cidade de Chernobyl, na ex-União Soviética, e em 2011, na cidade de Fukushima, no Japão, conjuntamente com a busca de novas soluções para o fornecimento de energia elétrica e a redução do aquecimento global, impulsionam a comunidade mundial a fazer um melhor aproveitamento das energias renováveis.
Em 2001, o Brasil passou por um dos maiores problemas energéticos da sua história, que levou a um programa de racionamento elétrico que durou até o início de 2002, e forçou diversos setores da sociedade brasileira a perceberem a necessidade da busca de novas fontes de energia. A escassez hídrica dos últimos 20 anos, encareceu substancialmente a geração energética brasileira, além de levarem a implantação de pesadas taxas, voltadas a compensar a ativação de termoelétricas para complementar a geração nacional.
O governo brasileiro sempre buscou atuar com eficiência na elaboração de políticas públicas que estimulasse a diversificação das fontes que compõe a sua matriz de energia elétrica, com o objetivo de garantir o suprimento de energia como condição básica para promover o desenvolvimento sustentável do país. Nesse contexto, desponta mais uma vez, como possível solução para o problema, a energia eólica, que vem sendo aproveitada pelo homem desde os primórdios da civilização, inicialmente através de cataventos.
Nesta temática, o Ceará desponta como um estado bastante promissor na geração de energia eólica, e tem uma das maiores vantagens competitivas de todos os estados brasileiros: possui uma plataforma continental rasa, com média de 8m de profundidade em aproximadamente 35% de sua faixa litorânea. Essas características reduzem custos na instalação de uma usina, facilitam sua manutenção e, consequentemente, sua durabilidade, além de já ser proprietário de um histórico bastante conceituado em parques eólicos onshore, ou seja, montados em terra, próximo a praias e dunas.
Entretanto, embora o potencial continental seja consideravelmente grande, apenas uma pequena parcela pode ser utilizada adequadamente, devido ao relevo, ocupação da terra e impactos ambientais. Para contornar o problema, o estado do Ceará, e o Brasil, começa a dar seus primeiros passos em um tipo de geração eólica marítima, conhecida como offshore, considerada a vanguarda da tecnologia mundial para a geração de energia renovável a serem implementados em grande escala. É uma tecnologia que está em desenvolvimento inicial, mesmo nos países que já operam projetos de energia eólica offshore.
A fonte eólica offshore deve ser vista como complemento e não concorrente da fonte eólica onshore. Apesar de maiores custos de instalação, operação e produção, a fonte offshore oferece algumas vantagens. No mar, os ventos são mais rápidos e perenes, além de que oferece menor nível de turbulência, o que reduz o desgaste dos equipamentos. Em relação ao porte dos parques, poucos sistemas onshore têm mais de 50 MW, devido à restrição de espaço, custo da terra, emissão de ruído e impacto visual. Além de preservar o espaço em terra para outras atividades econômicas diferentes da geração de energia, a implantação de turbinas no mar permite uma menor densidade de potência, que usualmente é de 13 MW/km² em terra e de 6 MW/km² no mar. (MANWELL, MCGOWAN e ROGERS, 2009).
Essas e outras vantagens comparativas da fonte eólica offshore têm direcionado governos e a indústria, a exemplo do que ocorre no Reino Unido e Alemanha, a planejarem projetos de escala superior a 1 GW para o mar do Norte. No litoral do Ceará, têm-se umas das áreas do Brasil com maior potencial eólico offshore. Uma junção de características fez a foz do Rio Acaraú um lugar de alta viabilidade técnica e financeira para a instalação de parques eólicos offshore.
O potencial de geração de energia eólica na plataforma continental de Acaraú equivale à produção da maior usina hidroelétrica brasileira. Caso 50% dessa área fosse explorada para instalação de usinas eólicas, geraria uma aplicação de recursos na ordem de R$ 24 bilhões. (ADECE, 2010). Para o investidor, a vantagem competitiva com relação à outras áreas no mundo, é com relação ao baixo custo de instalação, pela proximidade do litoral, potencial de geração acima da média europeia (pela média de velocidade dos ventos que é de 8m/s) e profundidade pequena. Esses três fatores são decisivos na escolha de áreas offshore para investir em energia eólica.
Por questões políticas e pressão popular, possivelmente não será a foz do Rio Acaraú que receberá o primeiro parque eólico offshore brasileiro, mas sim a praia do Icaraí e Tabuba, ambas localizadas no litoral da cidade de Caucaia, no estado do Ceará. Ambas as praias sofrem a décadas com a erosão e o avanço do mar, que ano após ano, acabaram praticamente com toda a faixa de areia de praia, destruindo empreendimentos, casas, condomínios e ameaçando de destruição total de tantos outros.
A possível solução para este problema, segundo estudos técnicos, é a construção de diversos espigões rochosos ao longo da orla, o que deve devolver parte da faixa de areia, permitindo uma revitalização de ambas as praias. O principal problema é o alto custo da obra, que vem, governo após governo, sendo empurrada para próximas gestões, enquanto a população sofre os efeitos do descaso.
Alvo de constantes reportagens e protestos de movimentos sociais a anos, o litoral caucaiense, que já sediou diversos campeonatos de surf, devido as altas ondas, geradas pelos já conhecidos fortes ventos da região, chamou a atenção da iniciativa privada, que enxergou uma oportunidade em meio ao caos. Assim, apresentou projeto de construção do primeiro parque eólico offshore brasileiro, que deverá contar com 48 turbinas offshore e 11 turbinas semi-offshore, com um total de potência instalada de 598 MW.
Em contrapartida, durante a implantação do parque, a empresa construiria todos os espigões necessários para proteger o litoral de um maior avanço do mar, mas não em uma atitude benevolente, mas sim para atender a necessidade de proteger, das grandes ondas, os aerogeradores. Tais espigões devem gerar um recuo do mar, permitindo que ambas as praias voltem a ter boa parte da faixa de areia que possuíam antes, permitindo uma revitalização da orla, gerando assim, uma externalidade positiva para a sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGENCIA DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DO CEARÁ (ADECE); ENGEMEP. Mapa Territorial de Parques Eólicos. Fortaleza, 65p, 2010.
MANWELL, J. F.; MCGOWAN, J. G.; ROGERS, A. L. Wind Energy Explained: Theory, Design and Application. 2ª Edição. ed. Massachusetts: John Wiley & Sons, 2009. 705p.
Prof. Me. Patrício Allyson Henrique Grangeiro
Docente do Curso de Gestão Financeira do Centro Universitário Ateneu
Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente e graduado em Ciências Econômicas
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