Muito se fala na Psicologia nos processos psicoterapêuticos em olhar para si. Eu falo de um lugar pouco frequentado, o lugar de si, o espaço de ser humano, antes de exercer qualquer outro papel social consigo mesmo, na relação com o outro e com o outro. Nesse percurso, tudo é importante. A falta que precisa ser sentida, o excesso que aponta para a falta que falta, a identificação do que há no outro que é o estranho familiar que habita em mim, em você, em nós… É para esse “tudo” que todos nós precisamos olhar.
É nesse espaço que se encontra o famoso cuidado biopsicossocial, e você também. Isso é ciência, isso é o outro, isso é você. Atente-se para você! O outro é uma consequência do que é possível visualizar na imersão da relação que é experienciada com você e/ou com outrem. Não se entende quando se olha para fora, só se entende quando se olha para dentro, e isso está longe de ser óbvio e superficial. É “psicologês”, é analítico, é real. Quando olhamos para isso, falamos de todo o resto: saúde, violência, populações, comorbidades, educação… da vida.
Considerando a teoria de Freud (1976), sobre o “Eu e o Outro” na fundação da cultura, o problema do outro (o reconhecimento da alteridade e sua problematização) pressupõe a tomada de consciência de si por parte do indivíduo, e só pode surgir em sua plena expressão após a consagração do individualismo, constituindo, portanto, um dos temas centrais do pensamento contemporâneo. A relação eu/outro é um acontecimento radicalmente humano, é uma experiência antropológica que se manifesta nas diferentes formas simbólicas da cultura (mito, religião, moral, etc.).
A questão que então se põe é a seguinte: como viver em comum, como construir a comunidade política, a partir do reconhecimento da diversidade dos interesses e opiniões dos indivíduos? Ora, é nesse contexto que o diálogo surge como experiência fundamental da problemática eu/outro, individualidade/alteridade. É na experiência que se vive com o outro e com os outros que constituímos a nossa singularidade, afinal de contas o eu não existe sem o tu, como Buber (1974) afirmou em sua teoria “Eu-Tu”. Metade de mim é sempre um gosto sem sal e um vazio profundo, até que eu exista em você e partir do outro.
Referências Bibliográficas
FREUD, S. Mal-estar na cultura. In S. Freud. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Walderedo Ismael de Oliveira, Trad., Vol. 21, pp. 75-174). Rio de Janeiro: Imago, 1976.
BUBER, M. Eu e Tu. Tradução do alemão, introdução e notas por Newton Aquiles Von Zuben. 10. ed. São Paulo: Centauro, 2001.
Profª. Iasminny Loiola Teixeira
Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Ateneu
Especializanda em Gestão Financeira e em Psicologia Hospitalar, especialista em Psicologia Aplicada à Educação e graduada em Psicologia
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