Desde a domesticação dos animais, o sucesso reprodutivo tem sido alvo de conhecimento e aprimoramento incessante por parte dos humanos. A espécie humana, hoje, apresenta grande dependência econômica e alimentar dos animais domésticos. Desde a antiguidade, os homens já competiam pela posse e multiplicação dos melhores animais, seja com propósito alimentar, emocional ou militar.
Diz-se que uma das primeiras iniciativas em termos de se obter os melhores garanhões datam do mundo árabe, por volta do ano 1300, onde havia grande disputa entre diferentes tribos pelo controle do poder e do comércio na região. Os cavalos, à época verdadeiras máquinas de guerra, tinham linhagens de uso exclusivo de determinadas tribos.
Diz-se que adversários, em busca de melhorar a linhagens de seus garanhões, enviavam escravos a acampamentos inimigos em busca da coleta não autorizada de sêmen dos animais, à noite, colocando pedaços de tecido de algodão na vagina de éguas recentemente cobertas, para deposição na vagina de suas respectivas éguas em cio, e eventualmente obtendo prenhez.
Uma vez domesticados, o controle da atividade reprodutiva dos animais passou a ser, cada vez mais, dependente dos seres humanos, alterando sua fisiologia, comportamentos e, em última análise, sua eficiência. Os programas de melhoramento genético, inicialmente, focaram em selecionar os animais mais produtivos. No entanto, os avanços obtidos a partir de animais melhorados, com maior potencial genético, dependiam do alcance reprodutivo desses animais, ou seja, a quantidade de fêmeas que cada macho consegue fertilizar.
A monta natural limita o número de fêmeas e o raio de ação do reprodutor às proximidades de onde ele habita. A partir dos estudos de Ivanov e do advento da inseminação artificial, o germoplasma dos melhores reprodutores passou a atingir um número maior de fêmeas. No entanto, a inseminação só funcionava de forma “a fresco”, ou seja, pouco tempo após a coleta.
Foi apenas a partir dos estudos do Dr. John Almquist, nas décadas de 1940 e 1950 que introduziram a adição de antibióticos às doses de sêmen, bem como avanços nos protocolos de resfriamento e congelação, que a inseminação artificial atingiu os números atuais, onde reprodutores doadores fornecem sêmen a ser utilizado em outros continentes, trazendo considerável benefício aos programas de melhoramento genético. No entanto, chegamos a outro impasse. A eficiência da inseminação artificial passou a ser limitada pela fertilidade dos touros.
Até hoje, busca-se encontrar o “santo graal” de como se medir acuradamente a fertilidade de machos doadores de sêmen “a priori”. O método mais confiável é avaliar o histórico do animal após seu germoplasma ser utilizado em milhares de inseminações. Este método, apesar de confiável, faz com que esta informação só esteja disponível para animais mais velhos, limitando, dessa forma, a utilização de animais jovens.
O exame clínico andrológico, incluindo a tomada de medidas escroto-testiculares, como a circunferência ou perímetro escrotal e a análise da libido e do sêmen dos reprodutores, vieram auxiliar neste processo de seleção precoce. Porém, mais do que trazer resultados preditivos da fertilidade dos machos, eles servem para estabelecer critérios mínimos para a utilização dos reprodutores, e dividir estes animais em inaptos ou aptos à atividade reprodutiva, permitindo a eliminação dos inaptos.
Estas conclusões se baseiam no fato que animais classificados como aptos, com valores escroto-testiculares e seminais equivalentes, apresentam resultados bastante divergentes de fertilidade após seu sêmen ser utilizado em um grande número de inseminações. Mesmo análises mais sofisticadas, como testes funcionais e análise computadorizada de sêmen não conseguem predizer com confiança a fertilidade de um reprodutor, apenas reduzem um pouco a subjetividade da análise.
Com essa preocupação em mente, outras abordagens têm surgido, e mostrado resultados encorajadores, incluindo a busca por marcadores moleculares para a fertilidade. Nesse sentido, estudos iniciados pelo professor Gary Killian, na Pennsylvania StateUniversity, utilizando a análise proteômica para o estudo da composição proteica do plasma seminal dos animais demonstraram que é possível melhorar significativamente a acurácia da determinação “a priori” da fertilidade de animais jovens, o que traz grandes vantagens, permitindo a utilização precoce desses animais.
Estes estudos mostraram que os componentes proteicos presentes no sêmen podem afetar adversa ou beneficamente os espermatozoides, com grande impacto sobre os resultados de fertilidade. Estes fatores não podem ser captados por testes tradicionais como o exame andrológico clássico, ou mesmo as análises computadorizadas do sêmen.
Já há alguns anos, algumas centrais de inseminação têm buscado classificar seus reprodutores a partir das análises proteômicas, ou mesmo em busca de proteínas seminais que possam ser utilizadas como aditivos nas doses de sêmen buscando melhorar sua fertilidade. No entanto, apesar dos esforços não há nenhum produto comercialmente disponível para utilização por empresas e/ou produtores. Seria esse realmente o caminho para se encontrar o meio ideal de se determinar a fertilidade “a priori” de animais jovens?
Prof. Dr. Carlos Eduardo Azevedo Souza
Docente do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Ateneu
Doutor e mestre em Zootenia e graduado em Medicina Veterinária
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