Enquanto profissionais de Psicologia, optamos por uma profissão que lida diretamente com a subjetividade humana, em suas variadas manifestações, inclusive, em sua forma de sofrimento. Recebemos pessoas muitas vezes cujo sofrimento é tão intenso que nem mesmo o próprio sujeito consegue delimitá-lo, e cabe-nos permitir que, mais do que sentir, ele possa circunscrevê-lo, da forma que consegue, a ponto de poder dar a ele um novo sentido, diferente daquele que o traz ali e que implica, por vezes, uma paralização diante da dor.
Nós escutamos. E essa escuta implica não ser passivo diante da dor do outro, mas ouvir de forma ativa, buscando entender por trás daquilo que está sendo dito, ou mesmo calado, pois geralmente é o que o sujeito não consegue dizer que diz mais sobre o que ele realmente sente. Temos que nos disponibilizar para esse trabalho, de acolhimento, de empatia, mesmo de parceria. Mas nossa escuta não é uma escuta simples, como a de um colega, de um amigo, ou um familiar. É a escuta de um profissional que ali, no ato de escutar, abre mão de suas crenças, de suas opiniões, de seus anseios, para permitir que o sujeito fale, nomeie sua própria dor, ao invés de tentar nomear por ele. Que permite que ali o sujeito possa advir, sem ser julgado, sem ser recriminado, sem que sua dor seja relativizada.
Ouvir o outro implica um ato de doação. Doamos uma escuta completa, nos eximimos de achar aquilo certo ou errado, bom ou ruim, simplesmente ouvimos. E nisso damos a oportunidade do sujeito se ouvir, podendo então construir sentidos que, sozinho, ele não conseguia. Ao direcionar sua fala para alguém que ali escuta, de forma tão absoluta, o sujeito se sente acolhido, enxerga a possibilidade de lidar com aquilo que talvez ele já desacreditasse ser possível resolver. Ele se permite construir, através da palavra, um novo destino. Um destino seu, construído através de suas próprias escolhas, responsabilizando-se por elas.
Escutar o outro é legitimar que ele existe, que ele vive, que seus problemas e suas angústias são reais, que ele pode falar sobre eles, que ele merece falar sobre eles, para alguém que acredita no poder de transformação pela fala, pela simbolização em palavras daquilo que ele simplesmente sente. O psicólogo ouve e, ao ouvir, ele escuta o sujeito!
Prof. Me. Allan Ratts de Sousa
Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Ateneu
Mestre e graduado em Psicologia
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