Deflação: “uma faca de dois gumes”

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Prezado leitor, você já deve ter escutado milhares de vezes nos meios de comunicação que o Índice Nacional de Preços do Consumidor Amplo (IPCA) cresceu um certo percentual e que os “vilões” da inflação do mês foram, por exemplo, o tomate, a energia elétrica, os combustíveis, etc. Estamos acostumados com este tipo de noticiário, haja vista nossa histórica convivência com a inflação. Entretanto, quando escutamos que em determinado mês ocorreu deflação, é, sem dúvida, um termo novo e desconhecido pela maioria dos brasileiros. Meus colegas, os economistas, conhecem muito bem sua definição: “Deflação é a queda contínua e generalizada dos preços”.

Pois bem, isso aconteceu. No último mês de julho, foi divulgado nos meios de comunicação que o Brasil teve deflação. A taxa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 0,68%. Os heróis (antigos inimigos) responsáveis foram a redução dos preços dos combustíveis (-14,15%) e da energia elétrica (-5,78%). Historicamente, é a menor taxa apontada pelo IPCA. Foi uma surpreendente notícia que não ocorria desde o início da série histórica iniciada em janeiro de 1980.

De fato, caro leitor, surge um necessário questionamento. A deflação é boa para nós? Sim, parece ser em um primeiro momento um “bálsamo” para os combalidos bolsos de milhões de brasileiros. Contudo, é relevante fazer ponderações. De fato, quedas nos preços contribuem para a recuperação do poder de compra de nossa moeda nacional (o real), pois, encoraja o consumo das famílias. Entretanto, se a queda dos preços for contínua por muito tempo, pode, inclusive, desestimular os empresários a continuarem investindo, reduzindo a produção e diminuindo, inclusive, o ritmo de contratações.

Mas, como isso é possível? No que diz respeito ao consumo, se os brasileiros acreditarem que os preços continuam a cair, podem adiar seu ímpeto para comprar, pois irão esperar uma nova queda de preços no mês seguinte. E isso não é bom para a economia, meu caro leitor. Por outro lado, o setor secundário (a indústria) aumenta sua capacidade ociosa de produção porque o preço de venda passa a não ser tão atrativo para os empresários (achatamento do lucro) devido à queda dos preços. O efeito disso é direto: diminuição do ritmo de contratações e acreditem, até elevação do desemprego.

A “roda da economia” vai parando, meus amigos. Contudo, a taxa de desemprego no último trimestre ficou em torno de 10,5%. Apesar desta ótima notícia, não dá para relaxar. É preciso que a equipe econômica de Paulo Guedes monitore de “binóculo” essa situação para não cairmos no famigerado ciclo vicioso que é bem descrito pela literatura econômica: a elevação do desemprego reduz o consumo, que por sua vez faz a produção cair. É preciso, portanto, impedir que esse efeito dominó se prolongue. Assim, meu prezado leitor, a meu ver, um pouco de prudência com a deflação e caldo de galinha não faz mal a ninguém.

Prof. Me. Fabrício José Costa de Holanda
Docente do Curso de Logística do Centro Universitário Ateneu
Mestre em Economia Rural e graduado em Ciências Econômicas e em Matemática (Licenciatura). Tem experiência na docência nas disciplinas de Administração Financeira Orçamentária I e II, Economia, Estatística, Contabilidade Gerencial, Matemática Aplicada e Matemática Financeira na UniAteneu.

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