Defensivos agrícolas ou agrotóxicos? Fundamentais ou prejudiciais?

  • Categoria do post:Saúde / Topo
Você está visualizando atualmente Defensivos agrícolas ou agrotóxicos? Fundamentais ou prejudiciais?

As duas nomenclaturas estão corretas, no entanto, somente o Brasil utiliza o termo agrotóxico. Resolvida essa primeira questão, vamos para segunda, são prejudiciais? Sim. São fundamentais? Mais ainda. Mas antes de explanar sobre essa aparente dualidade diametral, vamos entender o que são defensivos agrícolas. Sim, eu vou usar essa expressão porque é a que defendo como a mais correta a ser empregada para definir produtos químicos, físicos ou biológicos usados na agricultura com a finalidade de controlar seres vivos considerados prejudiciais à lavoura, defendendo as lavouras do ataque de insetos, plantas daninhas e doenças que atingem o ciclo de uma cultura.

Ao controlar as pragas que atacam as lavouras, os defensivos agrícolas garantem a saúde e manutenção das plantas e, consequentemente, o sucesso da colheita, e dessa forma, a sustentabilidade da produção agrícola. Uma reflexão… Se o mundo deixasse de usar os defensivos agrícolas, em quanto tempo teríamos escassez de alimentos no mundo? Em quanto tempo faltaria o que comer na sua casa? Você deve estar imaginando que temos hoje os alimentos orgânicos e que esses podem substituir facilmente os alimentos produzidos com base na agricultura convencional. Porém, sinto informar que a produção de alimentos orgânicos ainda não é capaz de alimentar a população mundial, a menos que houvesse uma radical mudança no padrão de consumo.

Um estudo conduzido por John Reganold e Jonathan Wachter, pesquisadores da Universidade de Washington, ao modelar pelo menos 500 cenários de produção de alimentos objetivando analisar se seria possível alimentar com orgânicos uma população mundial estimada de 9,6 bilhões de pessoas em 2050 sem expandir a área de terras que já utilizamos, concluiu que a agricultura orgânica pode produzir comida para toda a população mundial somente se as pessoas assumissem dietas baseadas em plantas, com menor consumo de carne, visto que a produção animal orgânica não admite o confinamento e não objetiva a alta produtividade em proteína animal. Logo, ainda não temos tecnologia suficiente para abolir os defensivos agrícolas, haja vista que a população a ser alimentada cresce anualmente.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), estima-se que até 40% da produção agrícola é perdida no mundo devido ao ataque de pragas e a consequência é a redução na produção de alimentos. Mesmo após os alimentos deixarem as plantações, ainda estão susceptíveis ao ataque de insetos, roedores e fungos, e a utilização dos defensivos se faz necessária para prolongar a vida das culturas e evitar perdas pós-colheita. O termo agrotóxico, erroneamente empregado pela legislação brasileira, foi proposto pelo pesquisador e PhD em agronomia Adilson Paschoal. O termo surgiu em 1977 no livro “Pragas, agrotóxicos e a crise ambiente: Problemas e soluções”, de autoria do mesmo e foi adotado pelo governo federal na Lei dos Agrotóxicos, publicada de 1989.

A toxicidade dos defensivos agrícolas é um fator dos ativos utilizados na elaboração do produto, assim como a utilização inadequada de fármacos os tornam igualmente tóxicos. Dessa forma, a correta utilização dos defensivos associados a um contexto conhecido como Manejo Integrado de Pragas (MIP), proporcionam proteção à lavoura, evitando assim perdas no campo e escassez de alimentos. Da mesma forma que um fármaco necessita de uma prescrição médica, os defensivos agrícolas também exigem uma receita a ser prescrita, chamada de receituário agronômico, expedida por um engenheiro agrônomo.

Parafraseando o alquimista alemão Paracelso, que disse que “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”, frase usada no contexto dos fármacos, mas que podemos estender aos defensivos agrícolas, eu só acrescentaria, na referida temática, o correto manejo de utilização e associação com outras técnicas podem proporcionar em qualidade e quantidade os alimentos que diariamente chegam às nossas mesas. Respondendo assim ao título desse artigo, afirmo que os defensivos agrícolas, com o manejo adequado, são fundamentais para alimentar a população mundial, e se você é um formador de opinião, informe-se melhor a respeito antes de levantar bandeira de não aos “agrotóxicos”.

Prof. Dr. Ed Carlos Morais dos Santos
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Ateneu
Doutor e mestre em Bioquímica e Biologia Molecular e graduado em Química Industrial

Saiba mais sobre o Curso de Nutrição da UniAteneu.