Muitos peixes de água doce, como o tambaqui, a pirapitinga e a curimatã são reofílicos, ou seja, sobem rio acima saindo do seu ambiente de alimentação para o de reprodução. Esse fenômeno é conhecido como piracema. Durante esse processo, os peixes recebem os estímulos necessários para atingir a sua maturidade sexual e liberar seus gametas. No entanto, em cativeiro, essa migração não é possível.
Sendo assim, surge a dúvida: como é possível que peixes reofílicos criados em cativeiro se reproduzam? Isso é possível devido a aplicação de diferentes biotecnologias reprodutivas, como a inseminação artificial, que se inicia com a aplicação de hormônios reprodutivos. O principal hormônio utilizado para induzir a reprodução em peixes reofílicos é o extrato de hipófise de carpa comum. Esse extrato consiste simplesmente na desidratação da glândula hipófise, localizada na cabeça da carpa comum. A hipófise é um subproduto da produção de carpas, visto que suas cabeças se destinam ao descarte. Para o uso, esse extrato deve ser macerado e diluído em soro fisiológico para ser injetado, geralmente, na base da nadadeira peitoral do peixe a ser induzido.
Em machos, o principal efeito do hormônio é aumentar a produção de liquido seminal, visto que a concentração de espermatozoides no sêmen de peixes é altíssima (cerca de 40 bilhões/ml). Com o aumento do volume seminal, ocorre uma otimização do material coletado que poderá ser usado para inseminar um maior número de fêmeas sem comprometer o sucesso da técnica. Além disso, um maior volume seminal facilita sua liberação e coleta. Já nas fêmeas, o hormônio atua acelerando a maturação dos oócitos, facilitando a sua ovulação.
Enquanto estão nos testículos dos peixes, os espermatózoides permanecem imóveis, adquirindo motilidade apenas quando entram em contato com a água devido o choque de osmolaridade entre o plasma seminal e água onde o sêmen foi liberado. Essa motilidade dura pouco tempo, alguns poucos minutos, variando de espécie para espécie (cerca de 1 a 3 minutos, geralmente). Sendo assim, na inseminação artificial, a coleta dos espermatozoides é feita “a seco”. Ou seja, o peixe é retirado da água, colocado em um tanque com solução anestésica, retirado desse tanque e colocado em uma mesa. Sua papila urogenital é enxuta com papel toalha e o abdômen é então pressionado.
O sêmen é liberado e coletado em tubos específicos para tal. Em alguns casos, o sêmen é aspirado diretamente da papila urogenital e são utilizadas seringas para evitar toda e qualquer contaminação com água. Para a coleta dos oóvitos, a metodologia é similar. Após passar pelo tanque com solução anestésica, a fêmea é colocada em uma mesa, sua papila urogenital é enxuta e seu abdômen pressionado para a liberação dos oócitos.
Em recipiente apropriado, o sêmen e os ovócitos são misturados nas devidas proporções seguindo o recomendado na literatura para cada espécie. Após essa mistura, é que então é adicionado água para ativar os espermatozoides que fertilizarão os oócitos. Essa mistura de oócitos, espermatozoides e agua é agora colocada em uma incubadora com fluxo de água constante para o desenvolvimento dos embriões. Os embriões crescerão consumindo o vitelo do oócito e somente após a eclosão (em torno de 24h para algumas espécies) eles deverão buscar seu próprio alimento no meio.
Profª. Drª. Mônica Aline Parente M. Maciel
Docente do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Ateneu
Doutora e mestra em Ciências Veterinárias, especializanda em Fisiologia Humana e graduada em Ciências Biológicas
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