No decorrer do processo histórico brasileiro, percebe-se a discriminação e as desigualdades de gênero, um cenário ancestral que acabou ganhando visibilidade durante a pandemia da Covid-19, devido ao maior impacto social na vida das mulheres, levando-as a perder espaços conquistados frente à muita resistência.
A crise econômica tem evidenciado tanto a centralidade de suas ocupações quanto a desproporcionalidade do volume de trabalho não remunerado. Com as medidas de segurança devido à pandemia, as famílias tiveram que fazer adaptações na sua rotina, cabendo às mulheres carregar o progressivo fardo das tarefas domésticas e dos cuidados, obrigando muitas delas a saírem do mercado de trabalho.
Esta realidade nos remete a uma repetição de padrão cultural e à necessidade de fomentar as discussões e a busca por garantia dos direitos das mulheres, utilizando esse momento de crise como uma oportunidade de despertar de consciência e mudança deste cenário. O patriarcado está no inconsciente coletivo do povo brasileiro e é mantido por lealdades a processos de dominação das mulheres pelos homens, que continuam obtendo vantagens culturais, sociais e sexuais, razão pela qual se faz necessário despertar a consciência e desconstruir padrões que exploram e invisibilizam suas potencialidades.
Trata-se de um pensamento perpetuado por uma sociedade capitalista e sexista, desenvolvida sobre alicerces de dominação e exploração, que se aproveita desde os corpos das mulheres à incorporação do trabalho feminino com remuneração inferior ao trabalho masculino, buscando manter a estrutura patriarcal, na qual os homens são os chefes do lar e os donos do maior poder aquisitivo, devendo, portanto, suas esposas se manterem submissas e dependentes deles.
Acredito que a Covid-19 veio a serviço de transformações que todo o planeta necessita para que continue sendo possível existir vida na terra, por meio da colaboração, empatia e igualdade. É urgente que ações afirmativas e políticas públicas sejam criadas a fim de que, ao final desta crise, seja possível o desenvolvimento de sociedades e economias mais sustentáveis, assegurando igualdade de gênero e inclusão, com homens e mulheres conscientes de que podem fazer diferente e que não existem mais razões e nem lugar para a discriminação e a opressão entre seres que se complementam em sua inteireza.
Profª. Rachel de Mesquita Rodrigues
Docente do Curso de Direito do Centro Universitário Ateneu
Mestranda em Avaliação de Políticas Públicas, especialista em Direito Ambiental e em Direito Penal e Processo Penal e graduada em Direito
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