Eu odeio o EaD? Ou o que sou no EaD?

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Sempre que somos chamados para escrever um artigo de opinião, temos a tendência a dissertar sobre uma temática que dominamos. Como químico industrial, teria a facilidade de escrever sobre tal área. No entanto, gostaria de sair dessa zona de conforto e me atrever a voar outros ares, uma vez que por ser um artigo de opinião, a tão somente opinião será meu norte nesse artigo. Começo revelando que sempre fui um ferrenho crítico do Ensino a Distância (EaD). Como professor/aluno “das antigas”, sou fascinado pelo presencial, pela emoção que só a mágica de um espaço físico, um quadro verde/branco, alunos e professores podem proporcionar.

O debate, a concordância e/ou discordância quando uma temática mais polêmica é trazida à luz, somado a todo o mar de conhecimento transmitido, é a essência da sala de aula tradicional. No entanto, com o advento da pandemia da Covid 19, ocasião que tivemos que adaptar o ensino e mergulhar de vez no EaD, ou ensino remoto como foi chamado, pus-me a refletir e percebi que o EaD, com alguns ajustes, é um sistema fantástico. Tenho, inclusive, falado isso em sala de aula e até recebido o apoio dos alunos, público esse que tem a maioria de insatisfeitos com essa modalidade de ensino.

O que me fez mudar de ideia? A minha percepção que eu não odeio o EaD, eu odeio o que eu sou no EaD, explico… No ensino presencial, o sistema exige que os alunos estejam presentes nas aulas. Minhas aulas, por exemplo, não são gravadas e eles não poderão assisti-las em outra oportunidade. Logo, ao perdê-las, terão um prejuízo por muitas vezes irremediável. Situação absolutamente contrária ocorre no sistema EaD, onde o aluno faz seu horário e não está “preso” ao meu horário de professor, não precisa se fazer presente e assim, toma as rédeas do seu processo de ensino-aprendizagem.

Porém, a única exigência do EaD é algo que eu, você e quase ninguém apresenta: nós não temos disciplina. Quando adquirimos um pacote de estudo no sistema EaD, é sugerido no mínimo o estudo de um tópico por semana. No entanto, diferente da minha A

l, o conteúdo permanece no sistema e isso faz com que o aluno, e eu também me encaixo nisso, se dê o luxo de deixar para depois e continuará deixando para depois até às vésperas em que é chamado para avaliar seu conhecimento adquirido no suposto estudo do conteúdo, ocasião em que enfrenta uma corrida contra o tempo para ler o material que, por falta de disciplina, não o fez de forma tranquila em tempo sugerido pelo sistema.

Por consequência, tem-se um resultado pífio, na maioria das vezes, suficiente para aprovação. No entanto, fica o sentimento que não houve uma plena aprendizagem, e é nessa hora que o aluno culpa o sistema EaD… A culpa foi do EaD ou da sua falta de compromisso e disciplina com o sistema? Fica a reflexão. Nesse artigo não estou levando em consideração variáveis do tipo qualidade de material didático, tutoria especializada, rotina de trabalho do estudante, acesso às tecnologias e até preconceito do mercado acerca do sistema EaD.

O meu foco foi exclusivamente no compromisso do estudante. Acredito que esse seja o principal desafio a ser vencido para que essa modalidade de ensino se torne de fato um sucesso e caia nas graças dos aspirantes a acadêmicos de nível superior, pois uma coisa já é fato, o EaD que há alguns anos atrás representava o futuro do sistema educacional, já se tornou presente e finalizo com o que iniciei: é um sistema fantástico. Só falta alguns ajustes, mas o principal ajuste é a minha/nossa postura como aluno em relação ao EaD. Eu aprendi a gostar do EaD, agora preciso me adaptar e gostar do que sou no EaD.

Prof. Dr. Ed Carlos Morais dos Santos
Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário Ateneu
Doutor e mestre em Bioquímica e Biologia Molecular e graduado em Química Industrial

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