A Chikungunya leva esse nome devido à sua origem, uma palavra do idioma Makonde, idioma falado na Tanzânia, que se assemelha a “tornar-se contorcido ou curvar-se”, caracterizando a aparência encurvada dos pacientes que sofrem artralgia intensa, consequência da doença. A infecção por Chikv possui até três fases: a aguda, a pós-aguda e a crônica. A ocorrência aguda pode evoluir para quadros pós-agudos e crônicos. Porém, não é regra. Os sintomas podem persistir por meses e até mesmo anos em pessoas sintomáticas, trazendo preocupação para a sobrecarga do sistema de saúde.
A transmissão do Chikv ocorre pela picada de mosquitos do gênero Aedes ssp. Como a fêmea necessita de refeição sanguínea para formação de ovos, elas que são o vetor transmissor. São vetores com estreito relacionamento com seres humanos e nesse ciclo o humano é o principal reservatório do vírus, já que a transmissão é humana-mosquito-humana. O índice de infestação está associado a fatores ambientais e climáticos. Ambientes com alto índice de infestação e aglomerados populacionais favorecem a elevada intensidade da transmissão e manutenção dela.
Como na grande maioria das doenças infecciosas, espera-se ciclos epidêmicos e de remissão. Os casos, nas duas ondas epidêmicas em 2016 e 2017, tiveram distribuição em todo o estado do Ceará de forma heterogênia evidenciando que em todo o estado há condições favoráveis para a incidência dos casos e uma população susceptível à Chikungunya. Após um período de silêncio da Chikungunya, neste ano de 2022 foram notificados 125.750 casos suspeitos de arboviroses. Destes, 54,9% (69.101/125.750) foram de dengue e 43,8% (55.087/125.750) foram de Chikungunya.
Observa-se um incremento de 225,5% no número de casos notificados de arboviroses, quando comparado ao mesmo período do ano anterior (38.630). Até o momento, observa-se que o percentual de casos descartados, 37,5% (47.208/125.750), é muito próximo do percentual de confirmados, 37,4% (47.088/125.750). Essa explosão de casos pode estar relacionada à quadra chuvosa intensa este ano e que se prolongou até meados de julho, e à demanda possivelmente reprimida advinda do período pandêmico.
Ressalta-se apesar de formalmente presente os serviços de saneamento básico (água, esgoto e lixo) no estado do Ceará, que foi evidenciado a inequidade na oferta desses serviços, visto que há irregularidade na frequência e qualidade dos mesmos, funcionando como incremento de risco para a incidência dos casos. Sabe-se que os fatores sociodemográficos estão diretamente ligados, apesar de não serem os únicos fatores, a proliferação do vetor e a ocorrência dos casos.
Destaco a importância do uso de ferramentas de análise espacial e temporal, por utilizar técnicas de análise que englobam a dependência espacial em áreas na análise de ocorrência da Chikungunya, tendo em vista que são subsídios fundamentais para elencar prioridades e locais que carecem de maior atenção, visando a um maior impacto das medidas de controle do vetor sobre a saúde da população.
Referências
CEARÁ. Secretaria de Saúde do Estado do Ceará. Coordenadoria de Vigilância à Saúde. Núcleo de Vigilância Epidemiológica. Boletim Epidemiológico das arboviroses. Fortaleza, CE, Ano 2022, 1ª a 27ª semana epidemiológica, jan./jul. 2022.
FERNÁNDEZ, Liodelvio Martínez; NAVARRO, Yeimy Paola Torrado. Fiebre Chikungunya. Revista Cubana de Medicina, [s. l.], v. 54, n. 1, p. 74–96, 2015.
POWERS, Ann M.; LOGUE, Christopher H. Changing patterns of chikunya virus: Re-emergence of a zoonotic arbovirusJournal of General Virology, 2007.
THIBOUTOT, M.M.; KANNAN, S.; KAWALEKAR, O.U. Chikungunya: A potentially emerging epidemic? Transmission cycle of CHIKV in Africa. Non-human primates, and possibly other wild animals, serve as reservoirs of the virus. Infected arboreal Aedes mosquitoes bite and infect humans. Infected humans, in turn, infect peridomestic Aedes aegypti, perpetuating the urban cycle of CHIKV transmission. PLOS Neglected Tropical Diseases.v 4, n.4, p.623. 2010.
Profª. Ma. Rebeca Bandeira Barbosa
Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Ateneu
Mestre em Saúde Pública, especialista em Saúde da Família e Comunidade na modalidade Residência e graduada em Enfermagem. É docente líder de Estágios Supervisionado I do Curso de Enfermagem da UniAteneu.
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