Uma epidemia silenciosa: redes sociais e saúde mental de adolescentes

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Nas últimas décadas, houve um grande crescimento na utilização de redes sociais e essa ascensão tem se destacado por seu impacto na saúde mental, sobretudo, entre crianças e adolescentes. A interação constante nesses ambientes digitais tem levantado debates e pesquisas voltadas para entender melhor essa relação das tecnologias digitais com o desenvolvimento humano.

Trabalhos têm sido desenvolvidos sobre o assunto, como a pesquisa publicada por Sumer Vaid et al em 2024, na revista Scientific Reports, apontando uma tendência de associação negativa entre o uso das redes e o bem-estar, que se mostra mais acentuada em indivíduos com certas vulnerabilidades psicológicas, como depressão e solidão.

Por óbvio, é preciso considerar que as novas tecnologias, potencializadas pelas redes sociais, facilitam a comunicação e não são algo passageiro. Noutros termos, vieram para ficar. Assim, é importante refletir quais impactos que o uso diário das redes pode ter na saúde mental das pessoas. Algumas investigações já identificam que o excesso de permanência em redes sociais pode causar danos ao encéfalo humano, particularmente, ao cérebro.

Em uma longa pesquisa sobre o desenvolvimento neural de adolescentes e o uso de tecnologia, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, relatam que a checagem constante das mídias sociais está ligada a mudanças no cérebro dos jovens, sugerindo que indivíduos que crescem a todo momento verificando as mídias sociais estão ficando com cérebros hipersensíveis a repostas sociais da vida real.

Outro problema é que um dos principais fatores que prejudicam a saúde mental dos jovens é a imposição de um padrão inalcançável promovido pelas redes sociais, que costumam apresentar versões idealizadas da vida das pessoas. A vitrine que se vende é de um mundo perfeito. Imagens cuidadosamente selecionadas, supostas histórias de sucesso e filtros atraentes criam uma ilusão de perfeição inatingível.

Por conseguinte, muitos jovens experimentam sentimentos de inadequação, afetando a sua autoimagem e autoestima, e levando-os a constantes comparações sociais e a acreditar que não possuem beleza e qualidades. Tornam-se reféns de um mundo virtual muito destoante da vida como ela realmente é. São vitrines de um mundo perfeito que não existe.

De uma forma geral, portanto, as redes sociais têm efeitos negativos sobre a saúde mental dos adolescentes. Jovens vulneráveis podem encontrar nessas plataformas uma justificativa para seus sentimentos de desesperança, tornando-se ainda mais suscetíveis a comportamentos autodestrutivos. Além das comparações sociais com vidas ilusoriamente perfeitas, há o cyberbullying, o grooming (aliciamento de crianças para abuso sexual), a superexposição e a desinformação, causas pelas quais essas mídias podem reduzir a autoestima, incitar a violência, gerar depressão e, em casos extremos, levar ao suicídio.

O fato é que as redes sociais podem se constituir um ambiente bastante tóxico. Um problema grave e geral, mas, comparativamente com a enorme quantidade de conteúdos produzidos nessas redes, pouco se fala disso de uma forma mais ampla na sociedade. Uma epidemia silenciosa, pode-se dizer.

Aprender a lidar com a superprodução de dados e a se proteger dos excessos do mundo virtual são desafios gigantescos, principalmente, para os jovens, mas que precisam ser enfrentados tanto individualmente, como pelas famílias, escolas, governos e instituições não governamentais.

Prof. Dr. Janote Pires Marques
Docente do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Ateneu
Doutor em Educação Brasileira, mestre e graduado em História.

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