O aumento alarmante de suicídio entre jovens chama a atenção para o que pode associar o adolescente ao suicídio. Do ponto de vista psicanalítico, para refletir essa associação, é preciso considerar antes de tudo que o indivíduo adolescente é um sujeito. O que significa, em poucas palavras, que é marcado por desejos sexuais inconscientes, remetidos ao complexo de Édipo, implicando assim, o ódio ao pai e o desejo pela mãe.
Na adolescência, lembra a psicanalista francesa Françoise Dolto, emerge um corpo novo, vívido de impulsos, despertados após um período da sexualidade infantil, chamada por Freud de latência. O despertar da sexualidade é vivida, por muitos adolescentes, como momentos de ansiedade e angústia. Uma vez que as pulsões sexuais impelem esse sujeito a sair do seu próprio para seguir em direção ao mundo do lado de fora. As primeiras paqueras e paixões podem ser muito onerosas, subjetivamente falando.
Dentro de contexto cultural como o nosso, onde domina o narcisismo exacerbado, onde tudo parece possível aos filhos adolescentes, não é suportável nenhum tipo de experiência de frustação. Para Jean-Pierre Lebrun, psicanalista belga, a sociedade contemporânea perdeu a capacidade de educar as novas gerações a partir do não, tornando o negativo, a falta, os tropeços, as imperfeições, os fracassos, inerentes ao humano, algo a ser esquecido, beirando ao comportamento perverso: “Sei que não posso ser/ter mas vou fazer de conta que não sei”.
Tal atitude impede ao adolescente de lidar com os dissabores da vida de uma maneira que não seja necessariamente trágica, como ocorre nos casos de suicídio, onde não se ver saída alguma para a angústia implacável da castração. E, claro: quanto mais o adolescente vive em contextos de laço social repressivo, pouco democrático, sem diálogos abertos, aumenta o sentimento de solidão e desamparo. Disso resulta o entendimento de que é urgente o desenvolvimento de práticas psicológicas que possam dar ouvidos aos adolescentes, permitindo que possam falar livremente sobre o seu mal-estar psíquico. Tomar posse da palavra é, para a psicanálise, um meio através do qual todo sujeito humano conquista um lugar para si mesmo, pois como ser falante adquire a condição de nomear o que o faz sofrer e construir desse modo o melhor caminho a seguir no mundo.
Profª. Drª. Francirene de Sousa Paula
Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Ateneu
Doutora e mestre em Educação Brasileira e graduada em Psicologia
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