As facilidades e benefícios trazidos pela modernidade dos recursos digitais vinculados à Internet são mais do que conhecidos e propagados, assim como muitos dos seus riscos e potenciais destrutivos. No entanto, em determinadas esferas institucionais e sociais, tais efeitos não só precisam ser melhor entendidos como, no caso do ambiente escolar, ser alvo de ação pedagógica com finalidade de desenvolver o letramento digital nos estudantes, o que acaba por exigir do professor competências ligadas ao meio digital ainda pouco desenvolvidas ou até mesmo conhecidas.
Não é segredo que o papel desempenhando pela Internet e os aparelhos que nos permitem acessá-la é de importância quase vital na vida social da dos indivíduos. Desconsiderando pouquíssimas exceções, todos, de uma forma maior ou menor, passaram a depender do uso deste meio para realizar ações e serviços dos mais diversos graus de importância, desde “fazer um pix” na compra de uma água de coco até a participar de reuniões de trabalho sem precisar estar fisicamente no local do encontro. E embora o cenário atual já se assemelhe a de uma ficção científica em comparação ao de poucas décadas atrás, nada indica que a acelerada evolução informacional e tecnocomunicacional esteja perto de alcançar algum tipo de platô a curto ou médio prazo.
A evolução digital se mostra, portanto, extremamente dinâmica e contínua, e acompanhá-la requer algumas atitudes específicas, como disposição, interesse e facilidade de acesso – qualidades estas bem mais presentes na personalidade de crianças e adolescentes do que na de adultos e idosos. De modo geral, como legítimo pertencente dessa última faixa etária, o professor tende a ter dificuldades no manuseio da rede que são quase que intuitivamente superadas pelos seus alunos, o que pode ser constrangedor para muitos docentes, fazendo, assim, que o trabalho com essa tecnologia e até a discussão sobre seus desdobramentos dentro de sala de aula sejam vistos como desnecessários pelo profissional.
Certamente, por mais que a “expertise” técnica esteja a favor dos mais jovens no que se refere ao mundo digital, não se pode descartar a experiência de mundo, junto ao distanciamento profissional inerente ao trabalho do professor pesquisador, como fornecedor de recursos críticos essenciais para a estruturação do Letramento Digital do estudante, mas, para a efetivação plena desse letramento, urge uma nova postura do educador em relação a esse meio.
O que falta para a prática pedagógica desse tipo de letramento ser vista como realmente significativa pelos professores é assumir a necessidade de se imergir na cultura digital com uma vontade desprendida de pré-conceitos valorativos ou morais. É preciso um olhar menos julgador, comparativista, sob o qual o novo sempre é suspeito. Não há substância a ser tirada da velha discussão maniqueísta entre o digital e o analógico para além das publicações acadêmicas de historiadores e sociólogos da mídia. O fato é o que é.
Hoje o jovem, de modo geral, só escreve de forma “analógica” na escola, apenas nesse ambiente existe tal exigência (e talvez essa situação possa ser, com algumas poucas adaptações, estendida aos próprios adultos). Não é à toa que muitos se sintam fora da realidade dentro de uma aula de produção textual. Não é culpa deles, não é culpa do professor, não é culpa de ninguém que a realidade seja essa, mas ela está posta e todos nós estamos inseridos nela. Cabe, assim, ao pedagogo apropriar-se destemidamente e sem nostalgias das singularidades desse campo como pressupõe sua vocação, através da pesquisa e da prática.
Prof. Me. Jivago Oliveira da Fonseca
Docente do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Ateneu
Mestre em Letras, especializando em Ensino de Língua Portuguesa e graduado em Letras – Língua Portuguesa
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