O mais utilizado meio de transporte (cargas/pessoas) utilizado no planeta é também o que mais atinge de forma danosa a vida marinha. É de se impressionar a quantidade de lixo que são lançados diariamente ao mar por navios diversos que singram os mares internacionais de um continente ao outro desse planeta. Para que você tenha uma ideia, uma viagem do Brasil ao extremo oriente (Japão e Coréia) leva aproximadamente 42 dias da origem de um porto brasileiro ao primeiro porto de destino. Na produção do lixo a bordo da embarcação durante o trajeto, tem-se como obrigatório, que o mesmo seja jogado ao mar bem antes da sua entrada em águas territoriais dos países de destino.
Pegando como exemplo uma armadora norueguesa, cujo navio tem a bandeira de Hong Kong, que atende a costa brasileira e seus diversos portos, carregando em seus porões os chamados forest products: celulose, madeira, caulim, lingotes produzidos no Pará com destino chinês, produz uma enorme quantidade de lixo, e para isso, consegue através de seu incinerador de bordo, queimar parte desse complexo lixo. Contudo, não consegue queimar sua totalidade em razão de muitos materiais não serem destruídos pela queima, como latas, vidros, dentre outros sólidos.
Tambores (tipo os de óleo lubrificante), adaptados são acondicionados (geralmente) na popa do navio, armazenando tais detritos e dejetos durante os dias de viagem. Comandantes de navios americanos, de quando em vez, são presos por descumprirem as ordens austeras com relação ao lixo, sujando por sua vez, a costa americana. Existe nos Estados Unidos uma ação encampada por voluntários e pela sociedade organizada, que atua junto aos portos e onde o fluxo turístico é mais intenso, no qual se distribui folhetos e material educativo, evocando a população na preservação dos mares e das praias.
Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) dão conta de que 70% das substâncias químicas e resíduos que contaminam os oceanos vem de atividades humanas na zona costeira, e outros 30% devem-se ao descarte feito pelos navios, plataformas de petróleo e incineradores em alto mar. São absurdos 6,5 milhões de toneladas/ano despejados ao mar. Não está aqui se computando os navios específicos de carga tóxicas, que zarpam de portos mundo afora com seus porões lotados, retornando de forma aliviada de sua carga contaminadora dos oceanos.
Nosso planeta é possuidor de imensos oceanos, que absorvem dia a dia essa enorme quantidade de lixo. Contudo, são também finitos. Tais lixos e descargas biológicas e tóxicas não sucumbem e nem subtraem, se somam, se acumulam, com efeitos perversos sobre a fauna e flora marinha. Em nosso país, assistimos vez por outra, o lixo que agride e ameaça à sobrevivência das tartarugas marinhas, que de forma instintiva acabam ingerindo materiais prejudiciais a sua saúde. Corpos estranhos como: plásticos, papéis, tampinhas e pedaços de arames podem bloquear condições normais de digestão alimentar, causando diversas anormalidades nessas espécies.
Nesse planeta tão agredido pelo homem, tem-se números assustadores e crescentes. Aproximadamente 70% dos sacos plásticos, latas, garrafas e pneus são depositados no fundo do mar, como se não bastasse, 4,5 milhões de toneladas de petróleo vazam anualmente de navios em águas internacionais, 675 toneladas de resíduos sólidos por hora são lançadas no mar, e seus danos causados ao meio ambiente e à vida marinha são igualmente intensos. Há trabalhos científicos especializados que estimam que o lixo acumulado nos mares seja o responsável direto pela morte de 1 milhão de aves e mamíferos marinhos a cada ano.
Muitos dos gigantes navios petroleiros, de forma irresponsável, fazem a lavagem de seus reservatórios nos oceanos, bem longe dos olhares fiscalizadores dos organismos internacionais. Sob a influência dos ventos e das correntes marinhas, placas de óleo flutuam por centenas de quilômetros, deixando o mar poluído por muito tempo, tendo em vista, que a dissolução dos óleos ser extremamente lenta.
Em um passado recente, no litoral nordestino, o navio Bouboulina da petroleira grega Delta Tankers, foi apontado pela Polícia Federal como principal suspeito de ter derramado toneladas de óleo cru de petróleo em alto mar, poluindo danosamente mais de 300 locais no litoral nordestino, verdadeiros santuários da fauna e flora marinha, num desastre ambiental marinho de proporções incalculáveis para todo o ecossistema.
Se o The International Convention for Preservation of Pollution from Ships sugere normas de controle e preservação do ambiente marinho a todas as embarcações que circundam nossos oceanos, destacando a forma correta que deve manter o lixo de bordo e seu correto descarte, contudo, o que vemos são desvios constantes dessas normas. Imaginem no Brasil, cuja fiscalização fica a cargo da Capitania dos Portos e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que cuja fiscalização e competência, sabemos ser de uma ineficiência notória, tornando esse descarte de lixo em alto mar comum no litoral brasileiro.
Um verdadeiro genocídio da fauna e flora marinha está acontecendo diariamente nos mares desse planeta, resultado da ação poluidora humana, o que nos deixa a afirmar, que poluir os mares, os oceanos, é muito mais que uma conduta inconsequente. É um crime contra o meio ambiente, contra a humanidade e suas futuras gerações. O modal aquaviário, sua importância para o comércio internacional e desenvolvimento global, sua diversidade de navios, não merecem serem esses vilões de nossos mares. O homem deve repensar sua conduta nesse sentido.
Prof. José Célio Fialho
Docente do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Ateneu
Especialista em Aperfeiçoamento em Docência na Educação Profissional, em Educação a Distância, em Docência do Ensino Superior e tem MBA Corporativo em Formação Avançada de Consultores e é graduado em Ciências Econômicas
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