Fala-se muito sobre crianças com necessidades especiais específicas, principalmente, com transtorno do espectro autista. Também existem várias teorias, abordagens e metodologias para trabalhar com a criança, sobretudo, na fase escolar. As terapias e tratamentos médicos são voltados, especialmente, ao público infantil, mas muitos se esquecem que essa criança cresce e com isso surgem outras necessidades, como a sua inserção no mercado de trabalho, por exemplo, o que é um assunto pouco abordado.
A intervenção na fase infantil consiste em torná-la mais independente para um determinado período, mas a longo prazo, não se pensa na fase adulta, tornando-se um tabu, não se falando ou preparando para a sua independência financeira, dentre outros aspectos, como alimentação, lazer, entre outros. Existe um preconceito na sociedade que o autista não vai conseguir se adaptar ou realizar determinadas funções, o que parece incoerente, pois além de ter diferentes graus, existem terapias com estímulos que pode levar a pessoa a sua independência total ou parcial.
Embora se tenha essa dúvida sobre a sua capacidade, a sua inserção no mercado de trabalho é garantida pela Lei Berenice Piana de 2012, que estabelece: “A pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais”, portanto, tendo direito às vagas reservadas. O Senado também aprovou novos mecanismos para a inserção no mercado de trabalho e em vagas adequadas ao perfil. É o que prevê a Lei 14.992/2024 e que também reforça a exigência de inclusão e acessibilidade, mas, essa inserção ainda está aquém do esperado.
Portanto, temos hoje adultos que foram diagnosticados tardiamente e estão no mercado de trabalho, que enfrentaram e enfrentam desafios, sendo necessário apoio e empatia com esses profissionais, como é o caso da professora Kelly Mayane, que em entrevista ao site G1 disse: “Eu entrei em estado de luto. É assim que eu posso falar. Não foi fácil, mas ao mesmo tempo eu fui entendendo que muitas coisas que aconteceram na minha vida hoje fazem certo sentido”. Ela expôs sobre quando soube do seu diagnóstico de autismo, que só ocorreu na fase adulta, depois de ter tido a sua filha.
Portanto, pessoas com deficiência ou um transtorno, não são pessoas incapacitadas. Ser neurodivergente não significa ser excluído, a sociedade precisa prover meios para a capacitação e inclusão. Podemos fazer um resgate em nossa memória, desse ou daquele profissional que achamos que o seu comportamento não era o “adequado” socialmente, e muitas vezes o julgamos e não tivemos empatia. Hoje, muitos estão no mercado de trabalho sem ter um laudo e muitos com laudo agora estarão. O mercado de trabalho e a sociedade precisam se adaptar.
Referências
BRASIL. Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Brasília: Diário Oficial da União.
BRASIL. Lei nº 14.992, de 03 de outubro de 2024. Brasília: Diário Oficial da União.
G1 TOCANTINS. Professora diagnosticada com autismo conta como é conviver com o transtorno: ‘Coisas que aconteceram fazem sentido hoje’. Disponível em: https://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2022/06/18/professora-diagnosticada-com-autismo-conta-como-e-conviver-com-o-transtorno-coisas-que-aconteceram-hoje-fazem-sentido.ghtml. Acesso em: 09/jan/2025.
Profª. Lucíola Lima Caminha Pequeno
Docente do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Ateneu.
Especialista em Docência em EaD e graduada em Pedagogia.
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