Em meio aos avanços das redes sociais e das inteligências artificiais, além de outros recursos midiáticos que esvaziam e fragmentam as relações de comunicação, a escola tem que encontrar seu espaço em uma realidade social onde o diálogo, a interação entre os indivíduos é atravessada por interferências, ruídos e fluxo exagerado de informações que acabam por impossibilitar a conexão significativas entre os sujeitos.
Sintoma de um mundo cada vez mais dependente de mediadores digitais, essa precariedade das interações humanas promove uma diversidade de efeitos nocivos que abarcam desde aspectos cognitivos a comportamentais, entre eles, talvez um dos mais importantes, o empobrecimento da oralidade como mecanismo de transmissão de cultura e de experiência.
Como instrumento de resistência a tal apagamento é que a instituição de ensino deve assumir uma função de zeladora e fomentadora do contato entre sujeitos através do diálogo, da troca de vivências, conhecimentos e afetividades, tendo a língua falada como meio para essa ação, visando à formação integral dos aprendizes a partir do compartilhamento de experiências.
A experiência, conforme abordada por Walter Benjamin (1987), constitui-se como um elemento fundamental na formação do sujeito e da memória coletiva. Benjamin enfatiza a importância da narrativa oral, da transmissão de saberes e vivências entre gerações, como um processo que não apenas preserva a história, mas também confere sentido à existência humana.
No entanto, o mundo digital, marcado pela aceleração do tempo e pela fragmentação da informação, parece distanciar-se dessa concepção benjaminiana. A instantaneidade das redes sociais e a superficialidade do consumo de conteúdos online muitas vezes impedem a valorização da experiência em sua profundidade, substituindo-a por uma sucessão de eventos desconexos e efêmeros. Nesse contexto, a transmissão de experiências perde a sua dimensão narrativa e reflexiva, reduzindo-se a meros dados ou imagens que circulam sem a mediação crítica necessária para transformá-los em conhecimento significativo.
Acreditamos que a sala de aula pode ser compreendida como um espaço privilegiado de preservação de experiências e do diálogo, elementos essenciais para a formação humana do estudante. Neste contexto, o professor deve assumir o papel de mediador que, por meio da narrativa e da troca de saberes, permite que os estudantes se apropriem criticamente do conhecimento, conectando-se, assim, com as tradições e com a memória coletiva.
E essa transmissão não deve se reduzir à mera reprodução de informações, mas envolve a construção de sentidos e a reflexão sobre o passado, o que contribui para a formação de sujeitos autônomos e conscientes de seu lugar no mundo. Contudo, como dito antes, a cultura digital, caracterizada pela instantaneidade e pelo excesso de estímulos, tende a esvaziar a subjetividade e a tradição, substituindo a profundidade da experiência humana por uma lógica simplista e diluída.
Diante disso, a escola e o docente emergem como resistência a esse esvaziamento, reafirmando a importância da experiência compartilhada e do diálogo como pilares fundamentais para uma formação humana integral e crítica. Portanto, em um cenário marcado pela aceleração digital e pela fragilização das interações humanas, a escola precisa assumir um papel crucial como espaço de resistência e reconstrução de vínculos significativos.
Ao estimular a oralidade, a narrativa e o diálogo, a instituição de ensino se posiciona como guardiã da experiência humana, resgatando a profundidade e a reflexão que a cultura digital tende a desconsiderar, tornando-se, assim, um ambiente privilegiado para a transmissão de saberes, a construção de memórias coletivas e a formação de sujeitos críticos e autônomos, capazes de se conectar com o passado, compreender o presente e projetar o futuro de maneira consciente e significativa.
Dessa forma, a escola não apenas resiste à desconexão imposta pelo mundo digital, mas também reafirma a sua missão essencial de promover uma educação integral, pautada na troca de experiências e na valorização da subjetividade humana.
BENJAMIN, Walter. Mágia e Técnica, Arte e Política. Traduzido por Paulo Sérgio Rouanet. (Obras Escolhidas; v. I). São Paulo: Brasiliense, 1987.
Prof. Me. Jivago Oliveira da Fonseca
Docente do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Ateneu.
Mestre em Letras, especializando em Design Instrucional e graduado em Letras – Língua Portuguesa.
Saiba mais sobre o Curso de Pedagogia da UniAteneu.