Sustentabilidade e estudo

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É fácil ouvirmos falar que apenas por meio do estudo nos tornaremos alguém. Com certeza, você já ouviu algo assim em algum momento de sua vida. E por mais que, claro, isso não queira dizer que quem não tem acesso ao estudo não é alguém, ou quem desenvolve um excelente trabalho sendo autodidata não mereça ser respeitado. Inclusive, quando falamos de moda, temos muitos exemplos assim, de excelentes profissionais que fizeram e fazem sucesso sem terem feito nenhum curso de graduação, e tudo bem, sim, isso acontece, e isso é bacana também. Mas o que precisamos entender é que certamente eles sentiram dificuldades em alguns momentos e sim, precisaram aprender. Provavelmente, aprenderam na prática, e tudo bem, também não tem problema, e inclusive aprender na prática é muito bom. Diria até que o ideal é aprendermos com uma junção de teoria e prática.

E foi dessa forma que buscando aprender na teoria e na prática, e em minhas incansáveis buscas por soluções sustentáveis para velhos problemas, eu descobri uma forma de transformar cascas de batata em bioplástico. Isso mesmo que você ouviu, cascas de batata, e vou contar mais um segredo, eu usei cascas de ovo em minha experiência também.

Surpreendente? Surpreendente é já estarmos no século XXI e ainda passarmos por problemas como a poluição causada por plásticos, que sim, já poderíamos ter substitutos biodegradáveis sendo usados em nosso dia a dia. E é exatamente aí onde entra a questão do estudo. Eu sou professora, mas também sou uma eterna aluna. Quando não estou em minhas aulas de doutorado, estou fazendo diversos cursos que me ajudem a me especializar. Mas, claro, não são quaisquer cursos, e isso é algo que também devo alertar.

Hoje ficou tudo muito fácil com o advento da Internet, e milhares de cursos são constantemente ofertados e o melhor, ou o pior, prometem coisas que nem sempre vão conseguir realizar. Então o alerta está dado! Cuidado ao adquirir um curso. Busque saber quem o criou, quem o está ministrando e principalmente, desconfie de promessas milagrosas, porque gente, ninguém aprende tudo sobre um planejamento de coleção em três aulas. Sorry, mas não é assim! Aprender a planejar exige conhecimento de diversos setores, exige um olhar sistêmico sobre a organização e um entendimento completo sobre as estratégias da empresa e sobre os resultados que se espera. Ou seja, é simples, mas é profundo, dá pra entender?!

Mas sabe o que é bacana? Existem excelentes profissionais para cada problema que se queira resolver, profissionais que estudaram e que estudam muito dia após dia, para realizar um trabalho de forma correta e assertiva! E sabe o que é ainda melhor? São profissionais que buscam novas soluções, pois para quem estuda, a frase “sempre foi assim” não se aplica. Na verdade, os estudantes de hoje estão cada vez mais na direção contrária a isso! E sabe o que? Isso é maravilhoso! Pois é assim que as inovações surgem!

E falando em inovação, que tal substituir aquele plástico poluente por um material biodegradável totalmente natural? E quem trouxe essa inovação foi um grupo de eternos estudantes e hoje donos da empresa Chip [S] Board, uma empresa, onde segundo eles: “Sustentabilidade é o princípio fundamental no qual a Chip [s] Board ltd foi fundada e é a força motriz por trás de nossa necessidade de melhorar o mundo em que vivemos.” (Inf. coletadas em chipsboard.com/about-us, em 27.02.2021).

Para os fundadores da empresa: “Os materiais geralmente precisam ter vida curta, então nossa visão é criar materiais que funcionem com os ciclos da natureza, não contra eles”, diz Rob Nicoll, CMO e cofundador. (Inf. coletadas em chipsboard.com/about-us, em 27.02.2021).

A Chip [s] Board® desenvolveu diversos materiais usando resíduos de batata, seguindo a direção de uma economia circular, de forma inovadora e sustentável. O site é bem simples e traz diversas informações sobre o processo e os propósitos desse trabalho: “Somos os únicos distribuidores em todo o mundo e vendemos diretamente para marcas, designers, estudantes e fabricantes que criam produtos em linha com nossa visão de um futuro mais sustentável. (Inf. coletadas em chipsboard.com/about-us, em 27.02.2021).

Foram ganhadores de diversos prêmios e inspiram estudantes de todo o mundo. E partindo de uma ideia que já existe, mas em busca de colocar essa ideia em prática, e ainda mais, trazendo essa ideia para nossa realidade, principalmente, focada em uma realidade de desenvolvimento de acessórios dentro da moda, que em minha pesquisa de doutorado, escolhi estudar e desenvolver meu próprio bioplástico. Seguindo a ideia da casca de batata, mas trazendo para essa proposta, a estética, ou seja, buscando ir além de ter apenas a sustentabilidade, mas buscando trazer design ao produto e, portanto, no intuito de causar no consumidor o desejo, e excluir qualquer pré-conceito que possa existir em relação ao feitio desse produto.

E foi dessa forma, buscando entender como esse produto foi realizado pela empresa Chip [s] Board®, mas sem informações maiores sobre o processo de feitio desse material, pois por se tratar de um produto que ainda está em processo de patente, não existem informações sobre os ingredientes utilizados e processos de feitio. Mas com criatividade, curiosidade, pesquisa e muito estudo, eu consegui desenvolver, mesmo de forma caseira, um bioplástico com aspecto agradável, brilhoso, sem odores, que não criou mofo, e que pode ser tranquilamente utilizado como substituto ao plástico ou acrílico, geralmente usados em acessórios de moda como brincos, pulseiras, fivelas de cintos entre outros. Inclusive pode abrir caminhos para a substituição dos plásticos utilizados em escovas de cabelo, ou em qualquer objeto de decoração que se queira experimentar.

O resultado desse projeto está em minha tese de doutorado, mas isso é apenas o início de um grande trabalho de pesquisa, onde o estudo é peça fundamental. Existe uma farse associada a Albert Einstein, que diz: “Jamais considere seus estudos como uma obrigação, mas como uma oportunidade invejável para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para seu próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho pertencer”.

E mesmo que não se consiga comprovar que essa frase lhe pertence, ela lhe define, afinal de contas para quem conhece um pouco a história desse grande estudioso, sabe que existiam poucos momentos onde Albert Einstein não estivesse estudando, pesquisando ou testando novas possibilidades, e inclusive a grande maioria de seus estudos foi fundamental para a criação de teorias hoje existentes, o que explica perfeitamente o final da frase “para proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho pertencer”.

Edgar Morin, um grande sociólogo e estudioso sobre o estudo e suas relações com a sociedade presente e futura, na primeira parte do livro “Para navegar no século XXI/21: tecnologias do imaginário e cibercultura”, na página 17, nos diz: “Produzimos a sociedade que nos produz. Ao mesmo tempo, não devemos esquecer que somos não só uma pequena parte de um todo, o todo social, mas que esse todo está no interior de nós próprios, ou seja, temos as regras sociais, a linguagem social, a cultura e normas sociais em nosso interior. Segundo este princípio, não só a parte está no todo como o todo está na parte. Isto acarreta consequências muito importantes porque, se quisermos julgar qualquer coisa, a nossa sociedade ou uma sociedade exterior, a maneira mais ingênua de o fazer é crer (pensar) que temos o ponto de vista verdadeiro e objetivo da sociedade, porque ignoramos que a sociedade está em nós e ignoramos que somos uma pequena parte da sociedade. Esta concepção de pensamentos dá-nos uma lição de prudência, de método e de modéstia”. (MORIN, Edgar. Para navegar no século XXI/21: tecnologias do imaginário e cibercultura. Organizadores: Francisco Menezes Martins, Juremir Machado da Silva. 2003. PG 17).

Então, da proxima vez que pensar em inovação, em sustentabilidade e estudo, lembre que estão todas sob a mesma direção, e que essa direção depende de cada um de nós, nos influencia e influencia a parte na sociedade que queremos construir.

Bibliografia livros e web:

MORIN, Edgar. Para navegar no século XXI/21: tecnologias do imaginário e cibercultura. Organizadores: Francisco Menezes Martins, Juremir Machado da Silva. 2003. PG 17

https://www.chipsboard.com

https://enterprisehub.raeng.org.uk/hub-central/blog/spotlight-series-interview-rowan-minkley-ceo-chipsboard/

Citação Albert Eintein – domínio público.

Profª. Ms. Fernanda Farias Vasconcelos Kreitlow

Docente do Curso de Design de Moda da UniAteneu

Doutoranda em Design de Moda, mestre em Gestão de Negócios Turísticos, especialista em Styliste Coloriste Infographiste e graduada em Design de Moda.

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