Sobre pensar no outro

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Os que se encontram fora do padrão aceitável na sociedade brasileira (negros, gays, deficientes, mulheres, umbandistas, candomblecistas, índios etc.) têm que enfrentar cotidianamente e de diferentes formas ao longo de suas vidas uma multiplicidade de ações que geralmente os desrespeitam e os inferiorizam. Ações materializadas em discriminações, interferem até, na vida afetiva e profissional destas.

Podemos apresentar uma situação, para exemplificar, pouco notada pelas pessoas. Antigamente nos jornais, na parte dos classificados, os anúncios de emprego exigiam que o candidato tivesse “boa aparência”. Atualmente, exige-se que o currículo seja acompanhado de uma foto, uma prática sutil e seletiva de normatização oportuna da empresa. Quem está fora dos padrões de beleza aceito na sociedade não será contemplado com a vaga.

As pessoas vítimas destas situações, cansadas de serem discriminadas e prejudicadas em suas vidas resolvem se organizar. Passam a discutir sobre essas situações e percebem que é preciso um fortalecimento político para uma ação concreta de mudança de mentalidade através da cultura e da educação brasileira. Tudo isto para que enxerguemos o óbvio: que o Brasil é uma país de uma diversidade étnica, de gênero e religiosa. Portanto, só através da alteridade é possível compreender ações que visam o politicamente correto.

Quando sou capaz de me colocar no lugar do outro, fica mais fácil entender ações como a de alguns blocos do Rio e de São Paulo, que começam a discutir se é certo tocar marchinhas machistas, racistas e preconceituosas. Porém, esta é uma prática pouco usual em nossa vida − apesar de muitos se considerarem cristãos e sempre nas igrejas ouvirem que não devem fazer ao outro o que não gostariam que fizessem a si próprio. Reagimos sempre ao novo e as mudanças com apego ao velho costume. Pouco questionamos alguns valores e tradições. Na verdade, não consideramos que estas são construções sociais e que surgiram dentro de um contexto sócio-histórico e que possuem finalidades bem definidas: dominar e controlar.

Interessante as reações de pessoas que reagem as mudanças nos carnavais, a exemplo dos blocos não cantarem marchinhas machistas, homofóbicas e racistas. É muito cômodo enquanto homem, hétero e branco achar que algumas marchinhas que discriminam mulheres, homossexuais e negros não deveriam ser abolidas do carnaval. Por isto, a importância da alteridade, já que ninguém pode falar daquilo que não viveu.

O poeta e dramaturgo Bertolt Brecht nos alerta para o fato de desconfiar de tudo que nos parece trivial, habitual, aparentemente singelo e normal,pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar”. E no Brasil, a vida dos diferentes é marcada pela arbitrariedade e desumanização.

Prof. Me. José Hilário Ferreira Sobrinho
Docente do Curso de Serviço Social do Centro Universitário Ateneu
Doutorando e mestre em História Social e graduado em Ciências Sociais

Saiba mais sobre o Curso de Serviço Social da UniAteneu.