É possível observar a olho nu que termos como bulllying, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e tantos outros tornaram-se algo comum, fazendo parte da atuação dos profissionais da educação, incluindo o psicólogo escolar, e também do vocabulário popular, chegando muitas vezes a um uso corriqueiro e até banal. Esses termos são, de modo geral, entendidos como comportamentos que se desviam dos comportamentos esperados pela sociedade, pela escola, pela família etc., resultando no que se está chamando hoje de comportamentos disfuncionais e que, portanto, precisariam ser consertados, corrigidos, submetidos à uma espécie de ortopedia psicopedagógica.
Pensando no bulllying, por exemplo, é curioso que esse fenômeno, que se refere a comportamentos agressivos, tenha se tornado uma febre nos últimos 10, 15 anos, se espraindo, sobretudo, na escola. Ele nasce com os estudos e pesquisas sobre agressão na escola, do professor Dans Olwen, da Universidade de Begen, na Noruega, a partir dos anos de 1970, cujo objetivo central era construir atividades prevenção/intervenção do comportamentos agressivo.
De lá para cá, o bullying parece ter ganho um outro significado, agora mais associado a uma perspectiva diagnóstica e individualizante, afastada portando da ideia original que era atentar para o fato de que a agressividade prejudica o coletivo e o compromisso que cada ser humano deve ter com o seu semelhante, interferindo na confecção de relações intra e interpessoais saudáveis, e onde o respeito às diferenças é um princípio necessário e fundamental.
Considerando também o chamado transtorno de deficit de atenção e hiperatividade, pode-se encontrar algo parecido, pois de repente, muitas crianças e adolescentes passaram a ser apontadas na escola como portadores desse déficit, ou poderíamos dizer “dessa deficiência”? Tratando-se de uma deficiência, ou de um comportamento deficiente, não se estaria reforçando o conceito de saúde redutível à dimensão biológica do ser humano? E ainda, ignorando a evolução que já foi alcançada com a definição contemporanea de saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde (ONU), a saúde significa um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente como ausência de doença.
Refletindo esse conceito de saúde, de caráter multidimensional é que se pode apontar a necessidade do psicólogo escolar olhar o comportamento dos alunos a partir de uma outra perspectiva teórica, saindo da referência biológica, a qual é, diga-se de passagem, a base teórica e prática da cliníca médica. A escola é um a instituição social, e enquanto tal, é promotora de indivíduos cidadãos, e assim deve primar por experiências formativas que cultivam práticas inclusivas e democráticas, cnstruidas no grupo, no coletivo. Desse modo, é importante que o psicólogo escolar possa imprimir na sua atuação profissional esses princípios que estão diretamente ligados ao novo conceito de saúde.
Para concluir, cabe lembrar aqui documentos importantes para a profissão do psicólogo que respaldam essa ideia. No código de ética profissional do psicólogo (2005), é atestado, dentre outros princípios fundamentais, que “o psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. No manual de Psicologia Escolar (2007), é afirmado que “o psicólogo escolar desenvolve, apoia e promove a utilização de instrumental adequado para o melhor aproveitamento acadêmico do aluno a fim de que este se torne um cidadão que contribua produtivamente para a sociedade”.
Profª. Drª. Francirene de Sousa Paula
Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Ateneu
Doutora em Educação, mestra em Educação Brasileira e graduada em Psicologia
Saiba mais sobre o Curso de Psicologia da UniAteneu.