O sono é um estado comportamental reversível, com ausência de percepção e responsividade ao meio ambiente, caracterizando-se como um estado complexo de processos fisiológicos e comportamentais, regulado por um grande número de neurotransmissores e hormônios que permitem que o mesmo flua, com o mínimo de influência de fatores externos (TUFIK, 2008).
Uma vez que o sono deixe de gerar efeitos fisiológicos e passe a trazer repercussões negativas para o indivíduo, caracterizam-se os distúrbios do sono, que podem ser de origem respiratória, cardiocirculatória, neurológica, metabólica, entre outras. O exame considerado padrão-ouro para identificar os distúrbios do sono, é a polissonografia de noite inteira, que consiste no registro de múltiplas variáveis fisiológicas e de fenômenos que ocorrem durante o mesmo (CHUNG, et al..; TUFIK, 2008).
Dentre os diversos distúrbios do sono, a apneia obstrutiva do sono (AOS) é bastante prevalente, estimando-se que, em média, acometa quase um bilhão de adultos, destacando-se com alta ocorrência na China, Brasil, Índia e Estados Unidos, onde acometem em torno de 20% da população idosa (BENJAFIELD, et al.,2019).
A AOS é caraterizada por episódios recorrentes de obstrução parcial (hipopneia) ou total (apneia) da via aérea superior (VAS) durante o sono. Há uma diminuição ou ausência de fluxo aéreo, apesar da manutenção do esforço respiratório, geralmente com redução da oxigenação e despertares noturnos frequentes, com sonolência excessiva diurna. Estando relacionada com importantes repercussões tais como doenças sistêmicas, cardiovasculares, cerebrovasculares, além de alterações cognitivas, metabólicas e maior incidência de acidentes de trânsito, com altas taxas de mortalidade (HADDAD; BITTENCOURT, 2013).
O tratamento padrão ouro da AOS é o uso de CPAP nasal, um equipamento gerador de fluxo aéreo, conectado na face do paciente através de uma interface, que pode ser uma máscara ou pronga nasal, por exemplo, que irá garantir uma pressão contínua na VAS, mantendo a mesma aberta. Desse modo, permitirá benefícios tais como a melhora da qualidade do sono, do ronco, da apneia, da qualidade de vida, do controle da hipertensão arterial, da diabetes, das dislipidemias e melhora da concentração. E é importante ressaltar que somos nós, fisioterapeutas, os adaptadores e gerentes dessa ventilação não invasiva que trará tantos pontos positivos para o paciente (BRASIL, 2021; FERREIRA, et al.,2015).
Assim, através da Resolução nº 536, de 10 de agosto de 2021, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito) reconhece o exercício da Fisioterapia nos distúrbios do sono como área de atuação própria do fisioterapeuta, destacando a necessidade do domínio de habilidades e competências relacionadas à área, tais como conhecimento para realizar consultas, anamnese, exame físico, testes específicos e exames complementares, aplicar o uso de pressão positiva nas vias aéreas, emitir laudos e relatórios, realizar indicação, prescrição e aplicação dede cinesioterapia para tratamento das disfunções musculares, fisiopatológicas e álgicas do sono, dentre outras atribuições (BRASIL, 2021).
Por fim, a área do sono que já se mostrava bastante promissora na Fisioterapia, tende cada vez mais a se difundir, ganhando espaço e respaldo no mercado de trabalho e abrindo mais oportunidades para os novos profissionais.
REFERÊNCIAS
BENJAFIELD, A. V. et al. Estimativa da prevalência global e carga da apneia obstrutiva do sono: uma análise baseada na literatura. v 7. The Lancet. 2019.
BRASIL. Resolução COFFITO nº 536, de 10 de agosto de 2021. Reconhece o exercício da Fisioterapia nos Distúrbios do Sono como área de atuação própria do fisioterapeuta, Diário Oficial da União, Brasília, n. 164, p. 219, 30 ago. 2021. Seção 1.
CHUNG, Ka-Fai et al. Epidemiologia intercultural e comparativa da insônia: o manual de diagnóstico e estatística (DSM), a classificação internacional de doenças (CID) e a classificação internacional de distúrbios do sono (CIDI). Medicina do sono, v. 16, n. 4, pág. 477-482, 2015.
HADDAD,F.; BITTENCOURT, L. Recomendações para o diagnóstico e tratamento da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono no adulto. 2013.
TUFIK, S. Medicina e Biologia do Sono. São Paulo; Manole, 2015.
Profª. Ma. Juliana Pinto Montenegro
Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Ateneu
Mestra em Ciências Médicas, especialista em Fisioterapia na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e graduada em Fisioterapía
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