Conforme a neurociência, os processos cognitivos em conjunto são elaborados pelo cérebro e possibilitam que, simultaneamente, aconteça a aprendizagem e contribua para o desenvolvimento do comportamento humano. Luria, neuropsicólogo soviético, entende que as funções mentais superiores, têm sua origem nos sistemas funcionais que fundamentam o comportamento, cuja base está na linguagem, e assim desenvolvem os processos de regulação das ações humanas. Desta feita, infere-se que a discussão, o estudo e as produções acadêmicas ou literárias são fonte relevante para a construção de saberes e comportamentos.
As produções científicas compartilham anseios de saber esclarecimentos sobre problemáticas consideradas relevantes em uma dada época, e o volume de publicações sobre um mesmo tema é indicador do valor que a comunidade acadêmica e a sociedade atribuem à sua discussão. Sendo assim, compreende-se que, a fim de provocar mudanças sociais seja necessário investimento em pesquisa e produção textual sobre assuntos que possam mudar para melhor a vida em sociedade, o que nos leva ao tema do combate ao racismo.
Um levantamento realizado durante a pandemia, em 2021, sobre o acervo de produções científicas como contribuição para o combate ao racismo em uma instituição privada de ensino superior constatou que em termos de títulos dos livros físicos, dentro de um acervo de mais de 100 mil exemplares, foram encontrados 24 títulos, totalizando 126 exemplares disponíveis, correspondendo a 0,13% desse total. Em um acervo virtual com mais de 8 mil títulos, havia 68 títulos. Considerando que virtualmente temos apenas um exemplar de cada título, obteve-se a cifra de 0,85% do todo. Em relação aos trabalhos de conclusão de curso da graduação, desde o ano de 2002 até 2021, apenas quatro trabalhos abordaram o tema, e na pós-graduação, somente oito. De um total de 6.428 trabalhos de conclusão de curso de graduação e de pós-graduação, essa temática corresponde a 0,18% do total das publicações.
Conforme Vigotsky, o comportamento é aprendido socialmente, a partir do que observamos no nosso entorno social, partindo dos círculos mais próximos aos mais distantes, como instituições, meios de comunicação em massa e redes sociais. Assim, vamos identificando, assimilando e reproduzindo valores, ideias, que irão nortear o julgamento, a reflexão e os comportamentos.
Desta forma, a defesa ao direito de igualdade que é ferido no comportamento racista fica prejudicada quando não se produz debate e conhecimento sobre esse fenômeno. Considerando que boa parte das aquisições para bibliotecas universitárias está associada ao plano de ensino das disciplinas, convidamos à reflexão acadêmica sobre esse tema. Como modificar uma realidade sobre a qual sequer se produz material acadêmico?
Profª. Ma. Patrícia Maia Cordeiro Dutra
Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Ateneu
Mestra em Antropologia e em Engenharia de Produção, especialista em Didática do Ensino Superior e Educação a Distância, em Gerência da Produção e em Saúde Mental e graduada em Psicologia
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