Começo este artigo de opinião a partir de uma máxima usual, mas descontextualizada: “Um empreendimento mal elaborado é capaz de comprometer o andamento de um projeto que, por sua vez, vai arruinar de forma substancial uma paisagem por anos ou mais. Essa mesma maneira banalizada, rasa e superficial de pensar, quando aplicada à Arquitetura, deixarão marcas tão profundas, extensas e significativas que serão visíveis do espaço, pois a má Arquitetura é um enorme erro cristalizado no tempo.
Tendemos a cair numa série de hipóteses absurdas que nos impedem de exigir mais dos arquitetos: supomos que a beleza feita pela mão do homem foi predestinada a existir em certas partes do mundo, mas não em outras; que obras-primas urbanas são produtos de pessoas muito diferentes e melhores do que nós mesmos; e que prédios superiores devem ter um custo extraordinariamente mais alto do que a feia Arquitetura que costuma tomar seu espaço.
As renovações urbanas realizadas em Edimburgo e Paris, embora criadas por homens que tivessem muita imaginação e perseverança, não eram dotados de nenhum talento excepcional. As praças residenciais, os jardins e avenidas que construíram resultaram de princípios muito bem conhecidos havia gerações. Mas estes homens estavam inspirados pela perspectiva de criar cidades legendárias. Dinheiro também não é desculpa. Embora não fosse barato construir essas obras, estaríamos injustamente culpando a pobreza pela falta de inspiração ao afirmar que um orçamento apertado algum dia já condenou um prédio à feiura
Luís XIV usou pás e picaretas. O equipamento de Hausmann também foi pobre: a carroça, a colher de pedreiro, o carrinho de mão, as ferramentas simples usadas por todas as raças antes da era mecânica. Nossas gruas, escavadeiras, concreto de secagem rápida e máquinas de soldar não nos deixam com mais nada para culpar a não ser a nossa incompetência. Devemos aos campos que nossas casas não sejam inferiores à terra virgem que substituíram. Devemos aos vermes e às árvores que os prédios com os quais os cobrimos sejam promessas dos mais altos e inteligentes tipos de felicidade, pois “cada nova obra é uma tábula rasa com a qual teremos a chance de criar algo que emocione, que materialize nossos anseios e crenças, que nos proporcione ambientes desencadeadores de felicidade”.
Pergunte à construtora que tipos de casas serão erguidas no campo condenado e você receberá um folheto do departamento de Marketing, em papel lustroso, mostrando cinco modelos diferentes de moradia, cada um com o nome de um parque italiano ou francês. Se depois de passar os olhos no elegante material promocional, ainda nos sentíssemos inclinados a questionar a aparência destas construções, é quase certo que o responsável pelo empreendimento responderia com um argumento conhecido e aparentemente invencível: essas casas sempre venderam rápido e bem. Seríamos lembrados com firmeza de que desprezar esses projetos significaria, portanto, ignorar a lógica comercial e tentar negar aos outros o direito democrático ao próprio gosto, o que por fim nos colocaria em conflito com dois grandes conceitos autoritários da nossa civilização: dinheiro e liberdade.
“E com esse argumento tão convincente quanto falso, a máquina imobiliária criou verdadeiras montanhas de edifícios feios e mal inseridos em nossas cidades. Basta constatar o que a onda dos neoclássicos criou em São Paulo. Felizmente, na contramão das grandes construtoras, arquitetos bem informados, formados e intencionados estão provando tijolo por tijolo que essa máxima não é verdadeira.
Seus empreendimentos consideram inteligentemente o local onde serão inseridos, seu entorno, as pessoas que ali vivem e circulam, e a época em que esses edifícios estão sendo construídos. Com isso criam-se edifícios verdadeiramente contemporâneos, belos em sua essência, autênticos, honestos, que proporcionam aos seus usuários uma experiência um pouco melhor da que estão tão mal acostumados. Isso já bastaria para ilustrar sua superioridade, mas pasmem, esses mesmos empreendimentos têm uma procura enorme e seus índices de valorização acima daquelas velhas conhecidas “Villas Paladianas de 20 andares”, além de nutrir a demanda pela boa Arquitetura. Essa é a Arquitetura que na verdade sempre buscamos, mas que, ironicamente, não encontrávamos porque nos eram oferecidos prédios que não queríamos, com o argumento de que são tudo aquilo do que mais gostamos.
Prof. Me. Frederico Augusto Nunes de Macêdo Costa
Coordenador Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Ateneu
Doutorando em Planejamento Urbano, mestre em Geografia Urbana, especialista em Gestão Ambiental e em Geoprocessamento Aplicado à Análise Ambiental e aos Recursos Hídricos e arquiteto e urbanista
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