O agronegócio brasileiro tem se destacado no cenário mundial, entre outros aspectos, devido às pesquisas e investimentos proporcionados a este setor pela iniciativa público/privada. No entanto, para o Brasil continuar crescendo e abrindo novos mercados, vários setores ainda requerem agregação de valor aos seus produtos, o que só pode ser feito pela incorporação contínua de novas tecnologias desde a produção até a distribuição.
O Ceará é tradicionalmente conhecido como um grande exportador de frutas do país, e apresenta a cada ano um significativo crescimento na exportação desse produto. Dessa forma, percebemos tanto a nível nacional quanto regional a necessidade cada vez mais crescente de investimentos em ciência e tecnologia nesse setor tão essencial para nossa economia.
No tocante aos produtores e distribuidores de frutas e legumes, observamos ao longo dos anos uma adaptação às mudanças nos padrões de consumo e exigência cada vez maior dos consumidores quanto à qualidade desses produtos disponíveis no mercado. A necessidade do mercado de atender à exigente demanda dos centros de consumo, geralmente distantes dos centros de produção, faz com que seja necessário prolongar a vida útil dos produtos sem que estas percam suas qualidades nutricionais e organolépticas, em consequência do processo de senescência natural. Dessa forma, observou-se na última década um esforço científico em pesquisas que levassem ao desenvolvimento de novos materiais que preservassem os frutos por mais tempo.
Pesquisas destinadas ao desenvolvimento de novas tecnologias para a redução das perdas pós-colheita são fundamentais para a economia nacional. Além de minimizar as perdas, elevam a competitividade e procuram atender às sofisticações de um mercado cada vez maior e mais exigente. A grande maioria das frutas e hortaliças, especialmente no ambiente tropical, após serem colhidas apresentam aceleração da maturação e deterioração em consequência das mudanças bioquímicas e fisiológicas, bem como de procedimentos no acondicionamento e práticas de manuseios adotados.
Para entender o quadro de desperdício de alimentos no Brasil, é necessário acompanhar a trajetória das perdas, que começa na produção, passa pela estocagem, transporte, armazenagem e chega aos balcões expositores nos pontos de venda. Em cada uma dessas etapas, as perdas podem ser minimizadas sensivelmente, com o uso de técnicas adequadas de manuseio e conservação.
Os procedimentos de conservação pós-colheita usualmente empregados estão em quase sua totalidade centrados na cadeia do frio e em boas práticas de armazenamento, sem dúvidas, importantes e merecedoras de estudos e aplicações. Contudo, um novo segmento tecnológico ganhou espaço nesta área que é o desenvolvimento de coberturas comestíveis protetoras e filmes biodegradáveis que, quando aplicados em frutos, possibilitam elevar o tempo de conservação permitindo uma maior flexibilidade de manuseio e comércio.
Os revestimentos comestíveis e os filmes biodegradáveis atuam com base na técnica da Atmosfera Modificada, que contribui para o decréscimo de perdas pós-colheita por meio da redução da atividade metabólica e da perda de água, melhorando seu aspecto comercial, refletindo no aumento do período de comercialização. Alguns sistemas pioneiros no Brasil começaram a ser desenvolvidos a partir de 2007 no Laboratório de Glicoconjugados do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Ceará (UFC). A equipe liderada pelo prof. Dr. Renato Moreira desenvolveu filmes e coberturas comestíveis usando matrizes de polissacarídeos extraídos de sementes, colágeno e glicerol.
Esse trabalho, na qual me orgulho de ter feito parte, ganhou notoriedade da comunidade internacional e me levou a fazer um PhD em uma universidade europeia, na qual foi possível estudar toda a físico-química dos filmes em diferentes formulações visando otimizar a aplicabilidade. Os resultados desse projeto trago em outro artigo, pois só gostaria de apresentar-lhes a problemática e provar que uma ciência de ponta pode contribuir para aumentar a competitividade e a sustentabilidade do agronegócio pelo desenvolvimento de novas tecnologias e consequente melhoramento dos produtos.
Prof. Dr. Ed Carlos Morais dos Santos
Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário Ateneu
Doutor e mestre em Bioquímica e Biologia Molecular e graduado em Química Industrial
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