Empatia, escuta e pandemia

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No atual contexto da pandemia da Covid-19, temos falado bastante sobre empatia. Carl Rogers (1902-1987), psicólogo fundador da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), se refere à empatia, e mais adiante à compreensão empática, como uma das condições necessárias e suficientes em relação ao processo de crescimento humano em Psicoterapia, incluindo adiante outras formas de relação humana.

Empatia se difere de simpatia, pois não se trata de nos identificarmos com o que a outra pessoa faz, pensa, sente, mas de tentarmos nos colocar no lugar dessa outra pessoa, tentar compreender o que se passa desde sua perspectiva, “como se” estivéssemos no lugar da outra pessoa, sem, no entanto, deixarmos de ser quem somos.

Empatia é um exercício e requer escuta, mas uma escuta sem julgamento, pois justamente buscamos compreender a perspectiva do outro, e não se está certo ou errado, se sua perspectiva refere-se a algo bom ou ruim.

A empatia parece, entretanto, banalizada, ao mesmo tempo em que observamos tantas atitudes de completa indiferença em relação ao outro. Pensando a empatia de um modo mais amplo e relacionado aos usos nesse nosso atual contexto, não tem a ver com olhar de um pedestal de superioridade e doar ao outro o que lhe sobra e o que você pensa que o outro necessita. Empatia, como disse, implica escuta! Como temos escutado uns aos outros? Como temos nos escutado?

Rubem Alves tem um texto no qual defende a ideia de criar cursos de “escutatória”. Ele conta várias situações, com muitas das quais podemos nos identificar, como, por exemplo, quando estamos em uma conversa e, em vez de escutar o que realmente a outra pessoa nos fala, já estamos elaborando nossa resposta.

Escutar implica considerar que são vidas, histórias e caminhos diferentes. Assim, o que é bom para um pode não ser para o outro. Por isso, escutar envolve um interesse sem julgamento, com respeito. E pode ser tomado como uma metáfora para nossa ação de perceber a outra pessoa de um modo mais amplo, em suas expressões.

O que a outra pessoa traz pode assustar, encantar, nos afetar de algum modo. Podemos não saber o que responder, mas, perceber a presença de outra pessoa interessada em escutar verdadeiramente, tem efeitos de saúde para quem fala e busca ajuda. Escuta e empatia têm a ver ainda com ética, entendida aqui não como uma tabela fechada de regras, mas relacionada aos nossos modos de conviver e a que sociedade queremos, nos orientando nas relações com as outras pessoas, em todas as nossas diferenças.

A pandemia tem nos colocado diante de muitas situações difíceis, permeadas por dores imensuráveis. Das centenas de milhares de mortes à fome e às muitas expressões de sofrimento psíquico. Nesse cenário, empatia e escuta dizem respeito a enxergar o outro, assim como as graves estruturas de desigualdades, injustiças e discriminações de uma sociedade adoecida e adoecedora. Empatia e escuta podem nos ajudar, desse modo, a lembrar que só atravessaremos este momento de crises coletivamente.

Profª. Drª. Lis Albuquerque Melo

Docente do Curso de Psicologia da UniAteneu

Doutora, mestre e graduada em Psicologia e é psicoterapeuta com formação em Abordagem Centrada na Pessoa (ACP)

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