Desde a graduação, venho me perguntando e refletindo sobre a disciplina “Ética e Deontologia” e temas como Humanização em Saúde. Por que escolher a área da saúde? Quais os requisitos para ser um bom profissional de saúde? O que é ser humano? O que é ser ético? É possível ser um bom profissional de saúde sem ser humano? É possível ensinar um estudante de graduação a ser um profissional ético?
Leonardo Boff em seus diversos ensaios sobre a ética do cuidado diz que “Diante do outro ninguém pode ficar indiferente. Tem que tomar posição. Mesmo não tomando posição, silenciando e mostrando-se indiferente, já é uma posição”. Logo, como explicar tantos erros, negligências, rispidez, falta de cuidado e indiferenças no trabalho do profissional de saúde, que, por sinal, faz um juramento para com a sociedade que, a partir do momento que sair do ambiente universitário e adentrar a sociedade, tem como pressuposto o cuidado integral com outro ser humano.
A palavra cuidado vem do latim “cura”. Cuidar de um outro ser humano vai além de técnicas, perícia e conhecimento científico. Exige estabelecer uma presença e uma relação, desprender de si e voltar‑se para aquele indivíduo, estabelecer um vínculo que se pressupõe genuíno e verdadeiro. Caso contrário, aquela terapêutica pode até levar a chamada alta em saúde, no entanto, as relações estabelecidas serão superficiais, efêmeras, inconstantes e dissolúveis.
Para além de direitos e deveres que todo código de ética e conduta profissional estabelece, existem seres humanos (ou não), por trás daquela persona profissional. Aquela pessoa por trás do jaleco carrega dores, feridas, amores, relações familiares e todo um passado que formou sua personalidade, e que será posta a prova em todo contato estabelecido dentro de um posto de saúde, clínica, domicílio ou beira de um leito hospitalar, diante de uma equipe multidisciplinar e diante de um ser denominado paciente: vulnerável e carente de um olhar cuidadoso e sensível.
Há quem acredite que, com o passar dos anos, esse cuidado e essa relação profissional – paciente tende a ser fria e banal. Será? Quais os fatores individuais e coletivos que interferirão nesse cuidado? Nessa relação? A pressão social por dinheiro, sucesso, fama, individualismo e materialidade faz com que percamos a ética do cuidado? Existe a possibilidade de individualismo e ética do olhar sobre o outro entrarem em um acordo humano, fraterno e cooperativo?
Em uma época de relações líquidas, como diria Bauman, precisamos identificar no fazer saúde saídas e soluções para que a ética não se perca diante de tanta tecnologia, superficialidade de relações e contatos. Essa reflexão não é fácil e não possui um gabarito, mas faz-se necessária e urgente, seja como docente, profissional de saúde em formação, com formação e como (ser) humano.
Profª. Drª. Denise Gonçalves Moura Pinheiro
Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Ateneu
Doutora em Cuidado em Saúde, mestre em Medicina Preventiva e graduada em Fisioterapia
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