Correntes filosóficas do pensamento científico

  • Categoria do post:Saúde / Topo
Você está visualizando atualmente Correntes filosóficas do pensamento científico

Para entender as características da pesquisa científica e seus métodos, é preciso, previamente, compreender o que vem a ser ciência (PRODANOV, 2013, p. 14). Etimologicamente, o termo ciência provém do verbo em latim Scire, que significa aprender, conhecer. Essa definição etimológica, entretanto, não é suficiente para diferenciar ciência de outras atividades também envolvidas com o aprendizado e o conhecimento (PRODANOV; FREITAS 2013, p. 14).

Assim sendo, o conhecimento científico exige demonstrações, submete-se à comprovação, ao teste. Consiste no conhecimento causal e metódico dos fatos, dos acontecimentos e dos fenômenos. Estabelece a relação sujeito-conhecimento, colocando uns em relação aos outros de modo que é possível descobrir a uniformidade das suas causas e dos seus efeitos. É um conjunto de conhecimentos metódicos sobre a natureza. Só é científico o conhecimento que for provado, ou seja, verificado e demonstrado (FREIRE, 2011, p. 5).

A partir daí, é importante conhecermos os tipos de conhecimento:

Conhecimento empírico: é resultado da experiência do dia a dia, isto é, da observação e da vivência que as pessoas têm com os fatos diários. Relaciona-se com as crenças e mitos populares. Não segue nenhum método para ser criado e obtido; não possui qualquer ordenação ou sistematização. Por outro lado, constitui-se a base do saber popular, sendo transferido de pai para filho. E, apesar de se caracterizar como sendo um conhecimento subjetivo, inexato, vulgar e superficial; muitos especialistas o consideram importante para a ciência, pois, às vezes, o pesquisador tem de passar pela observação dos fenômenos naturais antes de chegar ao conhecimento científico. Por exemplo, o saber sobre as ervas medicinais possibilita a obtenção de conhecimentos relacionados à farmacologia (JACOBSEN, 2009, p. 19).

Conhecimento teológico: está baseado em crenças e valores religiosos, sendo indiscutível, infalível e não verificável. Os objetos de estudo desse conhecimento são seres ou fatos sublimes, tais como Deus ou Buda. Consequentemente, não podem ser medidos ou comparados. Tal conhecimento é representado por dogmas (verdades absolutas) e, com isso, não pode ser contestado, nem tampouco se discute a seu respeito (JACOBSEN, 2009, p. 19).

Conhecimento científico: dizemos que este é o conhecimento produzido em laboratório, sendo do tipo racional, uma vez que resulta de uma investigação científica. Este conhecimento é demonstrável, verificável e passível de se replicar, sendo que suas variáveis devem ser conhecidas. Exige o uso de uma metodologia para desenvolvê-lo. Em outras palavras, o método de apreensão desse conhecimento é sistemático e controlado. O conhecimento científico, portanto, não se constitui em algo pronto e acabado. A sua origem está na aplicação de procedimentos de verificação baseados na Metodologia Científica (JACOBSEN, 2009, p. 20).

Conhecimento filosófico: O que seria o conhecimento filosófico? De acordo com Cervo e Bervian (1983, p.11 apud JACOBSEN, 2009, p. 20), o conhecimento filosófico se diferencia do científico pelo objeto de investigação e pelo método, já que “[…] o objeto das ciências são os dados próximos, imediatos, perceptíveis pelos sentidos ou por instrumentos, pois, sendo de ordem material e física, são por isso suscetíveis de experimentação (método científico = experimental). O objeto da Filosofia é constituído de realidades imediatas, não perceptíveis pelos sentidos e que, por serem de ordem suprassensíveis, ultrapassam a experiência (método racional)” (JACOBSEN, 2009, p. 21).

Ao visitarmos os tipos de conhecimento, faz-se necessário voltarmos para o conceito de ciência, sua importância e abrangência. Assim, devemos entender a ciência como um sistema de relações ou uma forma de aproximar fatos que aparentemente estão separados, mas que têm uma ligação entre si. Mais especificamente, trata-se do conjunto de informações sistematicamente organizadas e comprovadas como verdadeiras sobre determinado tema (JACOBSEN, 2009, p. 23).

Portanto, conforme lembram as autoras Lakatos e Marconi (2006 apud JACOBSEN, 2009, p. 21), as ciências possuem:

Objetivo ou finalidade: refere-se à preocupação em distinguir a característica comum ou as leis gerais que regem determinados eventos (JACOBSEN, 2009, p. 23).

Função: diz respeito ao aperfeiçoamento, obtido através do acervo crescente de conhecimentos, da relação do homem com o seu mundo (JACOBSEN, 2009, p. 23).

Objeto, que é subdividido em: a) material: é aquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar, de modo geral; b) formal: é o enfoque especial, em face das diversas ciências que possuem o mesmo objeto material (JACOBSEN, 2009, p. 23).

Por fim, cabe-nos ressaltar o conceito e a evolução do método científico. Partindo da concepção de que método é um procedimento ou caminho para alcançar determinado fim e que a finalidade da ciência é a busca do conhecimento, podemos dizer que o método científico é um conjunto de procedimentos adotados com o propósito de atingir o conhecimento (PRODANOV; FREITAS 2013, p. 24).

E sobre a evolução histórica do método científico:

Grécia Antiga (Pensadores: Euclides, Platão, Aristóteles, Arquimedes, Tales e Ptolomeu): Principais contribuições: Além das chamadas questões metafísicas, trataram também da Geometria, da matemática, da Física, da Medicina etc., imprimindo uma visão totalizante às suas interpretações (PRODANOV; FREITAS 2013, p. 25).

Séculos IV – XIII (Pensadores: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino): Principais contribuições: Transformação dos textos bíblicos em fonte de autoridade científica e, de modo geral, a existência de uma atitude de preservação/contemplação da natureza, considerada sagrada (PRODANOV; FREITAS 2013, p. 25).

Séculos XVI – XVII (Pensadores: Copérnico, Kepler, Galileu e Newton): Principais contribuições: Ruptura com a estrutura teológica e epistemológica do período medieval e início da busca por uma interpretação matematizada e formal do real. O método acontecendo em dois momentos: a indução e a educação (PRODANOV; FREITAS 2013, p. 25).

Séculos XVI – XVII (Pensadores: Bacon, Hobbes, Locke, Hume e Mill): Principais contribuições: Aprofundamento da questão da indução e lançamento das bases para o método indutivo-experimental (PRODANOV; FREITAS 2013, p. 25).

Séculos XVI – XVII (Pensador: Descartes): Principais contribuições: Método Dedutivo (PRODANOV; FREITAS 2013, p. 25).

Século XVIII (Pensador: Kant): Principais contribuições: Sujeito como ordenador e construtor da experiência: só existe o que é pensado (PRODANOV; FREITAS 2013, p. 25).

Século XIX (Pensador: Marx): Principais contribuições: Explicações verdadeiras para o que ocorre no real não se verificarão através do estabelecimento de relações causais ou relações de analogia, mas sim no desvelamento do “real aparente” para chegar no “real concreto” (PRODANOV; FREITAS 2013, p. 25).

Século XX (Pensador: Popper): Principais contribuições: Propõe que o indutivismo seja substituído por um modelo hipotético-dedutivo, ressaltando que o que deve ser testado não é a possibilidade de verificação, mas sim a de refutação de uma hipótese (PRODANOV; FREITAS 2013, p. 26).

Século XX (Pensador: Kunh): O método em dois momentos: a ciência trabalha para ampliar e aprofundar o aparato conceitual do paradigma, ou, num momento de crise, trabalha pela superação do paradigma dominante (PRODANOV; FREITAS 2013, p. 26).

Este texto foi elaborado pelo prof. Dr. Carlos André Moura Arruda a partir de excertos retirados dos textos contidos nas referências abaixo. Assim, contém, na íntegra, citações diretas.

REFERÊNCIAS:

FREIRE, Ermelinda Maria de Lamonica. Monografia acadêmica: elementos para a sua formatação. Varzea Grande, 2011.
JACOBSEN, Alessandra de Linhares. Metodologia do trabalho científico.Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração/UFSC, 2009.
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do trabalho científico [recurso eletrônico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

Prof. Dr. Carlos André Moura Arruda
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Ateneu
Doutor em Saúde Coletiva, mestre em Saúde Pública, especialista em Educação Comunitária em Saúde e em Pesquisa Científica e graduado em Pedagogia.

Saiba mais sobre o Curso de Nutrição da UniAteneu.