Quando escolhemos viver em uma grande cidade, levamos em consideração os benefícios oriundos da vida urbana, como acesso ao trabalho, renda, moradia adequada, tecnologia, cultura, lazer e convívio social. Contudo, o adoecimento dos seres humanos tem forte relação com o processo de adoecimento pelo qual passam as cidades.
Diversos problemas ambientais e sociais são encontrados, dentre os quais a diminuição das áreas verdes, a verticalização das moradias com o excesso de prédios, o aumento das ilhas de calor, a poluição dos rios, a falta de água e as enchentes, o sucateamento dos transportes coletivos e a prioridade para os transportes individuais, o aumento dos congestionamentos e da imobilidade nas cidades, juntamente com a poluição do ar e a elevada emissão de ruídos, a violência, a iluminação precária e a piora na percepção de segurança.
Todos esses fatores contribuem para mudanças no comportamento das pessoas como, por exemplo, diminuição dos deslocamentos a pé ou de bicicleta, baixos níveis de atividade física no lazer, ausência de crianças brincando livremente nas ruas, alimentação inadequada, com baixo consumo de alimentos in natura e alto consumo de ultraprocessados, resultando em maior prevalência de obesidade em todas as faixas etárias. Ao mesmo tempo, os habitantes das cidades convivem com surtos e epidemias de doenças infecciosas de séculos atrás, como a febre amarela e dengue, e boa parte das cidades brasileiras convive com a epidemia de uso de crack. Distúrbios do sono, estresse excessivo, ansiedade, medo de sair nas ruas e a falta de convívio social contribuem para o aumento da prevalência de doenças mentais.
Estudos epidemiológicos desenvolvidos em diversos países têm apontado que os transtornos mentais são mais frequentes em áreas urbanas, sobretudo, as de maior porte. Apesar disso, alguns fatores poderiam ser protetores, como: a formação de uma rede de solidariedade, de afeto e de apoio nas regiões urbanas; o sono reparador; e a diminuição da violência e da pobreza.
Para o desenvolvimento das estratégias de promoção da saúde, é necessário se apropriar de formas multidisciplinares e interdisciplinares de modo a melhor acolher os desejos da população. É importante firmar parcerias entre gestores públicos e cidadãos para a formulação de políticas públicas na construção de uma sociedade inclusiva e equitativa que estimule: o convívio coletivo; a mobilidade e a acessibilidade sustentáveis; e o pertencimento. Estes são considerados fatores fundamentais para a equidade, a justiça social e para contribuir na criação e manutenção de cidades saudáveis.
Profª. Ma. Daiana de Jesus Moreira
Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Ateneu
Doutoranda em Saúde Coletiva, mestra em Saúde Pública, especialista em Psicologia Hospitalar e da Saúde, em Gestão Educacional e Educação Especial e em Gestão Saúde Mental e graduada em Psicologia
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