O Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado em 2014, recentemente completou 10 anos. Porém, continua atual, representando um marco importante para as políticas públicas de saúde e nutrição do Brasil. Com a proposta de promover a alimentação saudável e a melhoria da qualidade de vida da população, o guia não se limita a orientar sobre o consumo de alimentos, mas também busca sensibilizar a sociedade para a importância de escolhas alimentares que vão além da contagem de calorias, valorizando o modo de preparo e o contexto social e cultural das refeições.
Ao contrário do guia anterior de 2006, que focava, principalmente, na quantidade de calorias e nutrientes, o Guia Alimentar de 2014 adota uma abordagem holística, incentivando a alimentação baseada em alimentos naturais e minimamente processados. A sua proposta central é promover a saúde por meio de práticas alimentares que integram os saberes locais, os hábitos culturais e os aspectos sociais da alimentação. O guia também enfatiza a importância de comer com prazer e de forma consciente, respeitando os ritmos do corpo e as relações interpessoais ao redor das refeições.
O conceito de “alimentos in natura ou minimamente processados” é um dos pilares do guia alimentar. O documento orienta que a base da alimentação deve ser formada por alimentos como frutas, verduras, grãos integrais, proteínas de origem animal menos processadas, dentre outros. O foco é no consumo de alimentos que mantêm as suas características originais, sem adição de substâncias artificiais ou grande intervenção industrial. Por outro lado, o guia alerta contra o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, bolos industrializados, biscoitos e fast food, cujos impactos negativos à saúde são amplamente reconhecidos.
A ênfase na escolha por alimentos “in natura” reflete a crescente conscientização sobre os danos que o consumo indiscriminado de produtos ultraprocessados pode causar, como o aumento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como diabetes tipo 2, hipertensão etc. Nesse sentido, o guia é um instrumento que visa auxiliar no combate às epidemias de doenças associadas a padrões alimentares pouco saudáveis, presentes em muitas das dietas modernas.
Apesar de seus méritos, a sua implementação enfrenta desafios substanciais. A disparidade entre as classes sociais e as regiões do Brasil é um dos principais obstáculos à sua aplicação prática. O país ainda enfrenta índices de insegurança alimentar, e muitas populações não têm acesso fácil a alimentos “in natura” ou podem não ter a educação nutricional necessária para compreender as orientações do guia. Além disso, o acesso a esses alimentos muitas vezes se restringe a centros urbanos, enquanto áreas rurais e periferias urbanas ainda convivem com dificuldades de acesso, resultando em um quadro de desigualdade alimentar.
Outro ponto crítico é a forte presença de alimentos ultraprocessados nas prateleiras dos supermercados e nas ofertas de restaurantes e fast food, que muitas vezes são mais acessíveis economicamente e mais rápidos para a população que enfrenta a rotina acelerada dos centros urbanos. Essa realidade cria um ciclo vicioso, no qual a conveniência e o “baixo custo” desses produtos prevalecem sobre as opções mais saudáveis.
Para que o guia alimentar tenha sucesso ao que se propõe, é imprescindível que haja investimento em programas de educação alimentar e nutricional, abordando não apenas a mudança de hábitos alimentares, mas também a forma como a alimentação é entendida dentro das diversas culturas e tradições brasileiras. A cultura alimentar do país é rica e variada, com sabores, ingredientes e preparações que devem ser valorizados, não só como uma questão de gosto, mas como um elemento crucial para a saúde pública.
Nesse sentido, iniciativas que integram as comunidades e os sistemas de ensino na disseminação das diretrizes do guia alimentar podem ser determinantes para o sucesso a longo prazo. A valorização da culinária local e a promoção de feiras de produtos frescos e regionais são caminhos que podem fortalecer a produção e o consumo de alimentos saudáveis, ao mesmo tempo em que incentivam a economia local.
Portanto, o Guia Alimentar para a População Brasileira (2014) é uma proposta importante para enfrentar os desafios nutricionais do Brasil. Ao priorizar alimentos naturais e minimizar a dependência de produtos ultraprocessados, ele promove uma abordagem mais integrada e consciente da alimentação. No entanto, a sua implementação exige políticas públicas que garantam o acesso a alimentos saudáveis para toda a população e iniciativas que incentivem a educação nutricional. Diante do exposto, o guia não é apenas um conjunto de orientações alimentares, mas uma ferramenta para auxiliar na construção de uma sociedade mais saudável e consciente de suas escolhas alimentares.
Profª. Ma. Isabela Natasha Pinheiro Teixeira
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Ateneu.
Mestranda em Saúde Coletiva, especialista em Nutrição Clínica e Fitoterapia Aplicada e em Nutrição Clínica e Esportiva e graduada em Nutrição e em Gestão Ambiental.
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