Ao percebermos que somos seres em constante construção, nos abrimos ao diálogo com o mundo e com os outros, buscando respostas e expandindo nossos horizontes. Essa busca por conhecimento é potencializada quando diferentes saberes se encontram. Como a interação entre esses saberes pode transformar a forma como aprendemos e nos relacionamos com o mundo?
A experiência do projeto de extensão que orientei, focado em promover a inclusão social e o desenvolvimento artístico de jovens e adultos, exemplifica essa dinâmica. Ao reunir os alunos da faculdade com participantes de diferentes faixas etárias, desde crianças de seis anos até idosos de 76, e com diversas habilidades, criamos um ambiente propício para a troca de saberes.
Um exemplo marcante foi a interação com crianças que descobriram a profissão de designer de moda. Elas expressaram suas impressões por meio de desenhos, pinturas e colagens. Mesmo sem transmitir conhecimentos técnicos aprofundados, a troca aconteceu de maneira espontânea: ao apresentar exemplos e trabalhos dos discentes do Curso de Design de Moda, as crianças puderam dar asas à imaginação, conectando seu conhecimento prévio com as interações vivenciadas.
Além disso, o projeto promoveu a ampliação dos horizontes de todos os envolvidos, inclusive os meus como docente. Oficinas práticas, como a de marketing digital, ensinaram artesãs a divulgar seus trabalhos nas redes sociais, transformando peças únicas em potenciais pequenos negócios. É importante destacar que o artesanato, além de ser uma fonte de renda, envolve um conhecimento intelectual profundo e exclusivo.
Cada peça é única, fruto de um processo criativo que transcende a mera execução técnica. A observação atenta das artesãs durante o processo de criação revelou a complexidade e a riqueza desse saber, que se manifesta na escolha dos materiais, na precisão dos gestos e na expressão da individualidade de cada artesã. Essa troca de saberes, que vai além das palavras, permitiu que as alunas compreendessem a importância do artesanato como um patrimônio cultural e como uma forma de “expressão artística”.
A experiência de interagir com artesãos e com a comunidade transforma a percepção dos estudantes sobre o mundo e seu papel nele. Vivenciar diferentes realidades os ajuda a desenvolver competências essenciais para atuar em um contexto cada vez mais complexo e interconectado. Nesse cenário, a academia tem o compromisso de criar oportunidades para que essas trocas aconteçam, formando profissionais mais críticos, criativos e alinhados às demandas da sociedade.
Essa reflexão reforça a importância de proporcionar aos estudantes a oportunidade de interagir diretamente com aqueles que dominam as técnicas, sejam artesanais ou não. Essas experiências permitem que os aprendizes internalizem novos olhares e compreensões, formando a base para o profissional que serão no futuro. Em projetos de extensão, especialmente, os realizados fora do ambiente acadêmico, os alunos têm a oportunidade de enxergar as comunidades sob uma nova perspectiva, conhecendo diferentes realidades e formas de aplicação do conhecimento. Essa vivência amplia a sua compreensão sobre como as pessoas se relacionam com os objetos e práticas, ajudando-os a construir uma visão mais humana e contextualizada de suas áreas de atuação.
Aprendizes, ao serem engajados desde o início da faculdade em um ambiente onde podem observar e atuar como profissionais, sob orientação, compreendem melhor o processo de construção dos saberes de forma colaborativa e contextualizada. Essa é uma experiência que pode e deve ser enriquecedora para todas as partes envolvidas, promovendo a valorização da diversidade de experiências e saberes.
Em suma, a experiência do projeto de extensão demonstra a potência da troca de saberes como ferramenta pedagógica. Ao promover a interação entre diferentes atores sociais, essa prática contribui para a construção de um conhecimento mais completo e significativo, além de fortalecer laços e promover a inclusão social. É fundamental que as instituições de ensino invistam em projetos que possibilitem a troca de saberes, fomentando a criatividade, a inovação e o desenvolvimento de competências essenciais para o século XXI.
Profª. Vaneska da Silva Rebouças
Docente do Curso de Design de Moda do Centro Universitário Ateneu.
Tem MBA em Administração e Negócios e graduada em Design de Moda.
Saiba mais sobre o Curso de Design de Moda da UniAteneu.