Para quem não gosta da língua portuguesa, escolher o setor da saúde parece, à primeira vista, uma opção válida, ainda mais quando se tem a Inteligência Artificial como aliada (ou adversária). “Falar e escrever a contento fica para quem vai ser jornalista ou seguir a área da Pedagogia e do Direito. Não gosto de ler, por isso escolhi outra área”. A linguagem tomou o rumo do “vc”, “plmds”, “vdc” e outras siglas mais. O que é isso, afinal? Abreviar se tornou mais fácil do que praticar a velha ortografia correta, tão treinada na alfabetização.
“Até no TCC dá para enrolar, usar o chatGPT e escrever uma boa obra”. De fato, publicam-se “bons” trabalhos ludibriando orientadores que ainda apostam na ética profissional. Uma pena. Entretanto, eis que alguns se interessam pela ciência, querem melhorar o currículo, ensejam a pós-graduação… e lá vem, novamente, a língua portuguesa para assombrar.
Escrever bem é uma habilidade que sempre foi valorizada no mercado de atividades, em todas as áreas. Para um profissional da saúde, a boa comunicação, oral e escrita – pasmem! – aumenta as chances de destaque em processos seletivos e marketing pessoal. São as atuais e famosas life skills: quem as têm passa à frente.
Saber falar bem transmite confiança, seriedade e credibilidade, e consequentemente desperta a consideração do paciente e a lealdade do serviço. As prescrições são absorvidas naturalmente e a comunicação consegue se adequar a qualquer perfil. Faz parte da rotina de um profissional da saúde escrever prontuários, relatórios, evoluções de tratamento… sem falar em artigos, para os que pensam além, almejando valorizar o lattes e assumir cargos de gestão.
De certo, a linguagem, inicialmente, não é critério de escolha de um paciente. Todavia, quem fala e escreve mal põe em dúvida suas competências profissionais. Você confiaria no tratamento e/ou nas instruções de um fisioterapeuta que não se comunica bem ou, pelo menos, não se faz entender? Acreditaria em um receituário que não diferencia o “mais” do “mas” e do “más”; o “dar” do “dá”; a “cesta” da “sexta” e da “sesta”?
Sob outra perspectiva, o que acharia de um relatório claro e conciso, objetivo e acessível, de fácil leitura? Lembrando que, para variar o nível de complexidade pronunciada e escrita, também se faz necessária a compreensão do idioma. Ambiguidades em um contexto profissional não são bem-vindas. Crer que habilidades relacionadas à linguagem só devem ser preocupação no caminho das ciências humanas é um ledo engano.
A escrita tem um grande peso no exercício da profissão e é possível aprimorá-la adotando o hábito da leitura e pesquisando quando tiver dúvida. Mas cuidado com o que se lê na Internet! Prefira artigos em plataformas conhecidamente fundamentadas. Pratique os verbetes tal como são, diminuindo abreviações e gírias. Quanto mais se treina, mais se aprende. Não é um caminho rápido nem tampouco fácil, mas vale a pergunta: Que nível de expertise quero atingir?
Profª. Drª. Camille Maria de Holanda Angelim Alves
Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Ateneu
Doutora em Ciências Biológicas, mestre em Ciências Fisiológicas e graduada em Fisioterapia
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