A economia criativa no Brasil

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A procura por profissionais que atuam na economia digital e com foco na criação de produtos e serviços diferenciados para o consumidor tem crescido bastante segundo os dados da pesquisa “Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil – Edição 2019”. O mercado de trabalho abriu 24.500 vagas para profissionais com esse perfil em dez profissões da economia criativa. O levantamento reflete as transformações da nova economia, caracterizada por novos modelos de negócio, hábitos de consumo e relações de trabalho (Firjan: cresce busca por profissionais digitais e inovadores, segundo nova edição do “Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil”, 2018).

Ainda segundo os dados apontados, as principais áreas de atuação e suas relevâncias nesse mercado são: analista de pesquisa de mercado (+42%), analista de negócios (+23%), chefe de cozinha (+21%), editor de mídia eletrônica (+20%) e designer de eventos (+15,3%), que apresentaram crescimento significativo. Logo depois, aparecem designer de moda (+14%), designer de produtos (+10%), designer gráfico (+4,9%), programador (+3,3%) e gerente de TI (1,4%).

O levantamento aponta que a digitalização e a necessidade de compreender o consumidor e as suas vontades são vistas como prioridade pelos empregadores que querem se destacar nesse ambiente novo e competitivo. É um crescimento muito relevante, especialmente, considerando o cenário de recessão, com queda de 3,7% no mercado de trabalho nacional (encerramento de 1,7 milhão de postos de trabalho) (Firjan: cresce busca por profissionais digitais e inovadores, segundo nova edição do “Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil”, 2018). Dentre os principais setores, a moda está como uma das áreas de atuação bem relevantes envolvidas no cenário de economia criativa.  Por isso, a necessidade de explorar essa temática e viabilizá-la com uso de ferramentas atuais e sustentáveis.

O objetivo desse trabalho não é somente apresentar conceito de economia criativa, compartilhada ou colaborativa, e sim apresentar o fluxo entre esses conceitos e sua aplicação, e demonstrar a importância do mesmo, se aplicado na indústria da moda, promovendo resultados mais satisfatórios e sustentáveis, tanto no âmbito econômico, social, quanto ambiental.

Outra forma de se analisar o mercado atual, são as novas performances dos consumidores, suas novas formas de consumir. Os jovens consumidores não estão somente consumindo, pois existe algo a mais no momento da compra, uma preocupação social, ambiental ou trocas de experiências. O futurologista Jeremy Rifkin diz que estamos passando por uma mudança fundamental: os jovens não estão só produzindo e compartilhando entretenimento, notícias e informações, eles também estão começando a compartilhar todo o resto – carros, roupas, apartamentos. As gerações mais novas não querem ter um carro, porque “isso é coisa de vovô”. Os millennials querem acesso, e não posse. Estão realmente começando a ver a si próprios como parte de uma grande família humana. A chamada “civilização empática” traz uma mentalidade não mais adaptada ao capitalismo, mas a economia do compartilhamento (Carvalhal, 2016, p. 137).

É preciso entender as novas revoluções. Estamos vivenciando essa mudança na perspectiva do consumidor, que anseia por essas novas formas de consumir, e consequentemente de produzir, compartilhar, circular, e transformar tudo em fluxo. É necessário, além de apenas promover um negócio inovador baseado em uma ideia, associar e integrar os conceitos.

Esse movimento associado e amparado às novas tecnologias fomenta e faz tonar-se possível essa proposta de modelo agregado de conceitos, promovendo inovação em todos os setores, inclusive na moda. Amparados pela ciência e tecnologia, na nova era industrial da moda, viveremos ciclos de inovação, nos quais a tecnologia e a sustentabilidade andarão juntas. Esse é o futuro que precisa ser cada vez mais presente da moda. Exemplo: na COP21 de 2015, a Conferência Mundial do Clima, realizada em Paris, a Adidas, em parceria com a Parley for the Oceans, criou um tênis impresso em 3D usando plástico encontrado no mar. Mas pense também em roupas feitas para ser reutilizadas e biodegradáveis ou que se autorregeneram, não sujam ou molham, multifuncionais, que captam energia solar e cinética para alimentar dispositivos eletrônicos, monitorar o clima externo, a saúde e os exercícios de quem usa (isso já existe).

Para que tudo isso aconteça, novas profissões surgirão, mostrando cada vez mais a importância da transdisciplinaridade, através das conexões entre as áreas de moda, design, ciência, tecnologia e arquitetura, o que vai inaugurar a era das profissões da moda. Uma das defensoras desse pensamento é Lala Deheinzelin, uma futurista que vem de um movimento literário e artístico, o “Futurismo”[1], que tinha como principal característica a valorização da tecnologia e velocidade. Essa corrente faz parte das vanguardas artísticas europeias que despontaram no início do século XX. Influenciou a literatura, a pintura, a escultura, a música e outras vertentes das artes. (Laura Aidar, Artigo revisado em 18/06/19 ). É pioneira no setor da Economia Criativa como estratégia de Desenvolvimento e Sustentabilidade. A mesma sempre atuou na área criativa – teatro e dança –, sendo este um dos diferenciais que possui em relação a outros experts na área. Entrou, de fato, para o mercado de economia criativa a partir de 2004, quando aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD Eleven), que foi no Brasil. (Fonseca, 2018).

O objetivo do relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento é promover o desenvolvimento do comércio, de acordo com o relatório proposto em: “O comércio internacional é reconhecido como um importante motor de crescimento na economia mundial e globalização. O desafio chave é maximizar o potencial do comércio de bens, serviços e commodities para os países em desenvolvimento, de modo a torná-los capazes de alcançar o crescimento sustentável, o desenvolvimento e a redução da pobreza. (UNCTAD, 2004 p. 3).

Segundo Lala Deheinzelin em entrevista à plataforma Panorama Mercantil ela explica o momento em que ocorreu a UNCTAD no Brasil em 2004  proposto pela ONU, onde apresenta os “novo” modelos de negócios que abrange a economia criativa e quais decisões firmadas sobre esse setor para o Brasil, em termos de consequências, bem como sua adesão a esse projeto.

Segundo Lala Deheinzelin, nesse momento a Organização das Nações Unidas (ONU) havia percebido a necessidade de contemplar novos mercados.  De acordo com as decisões tomadas para o Brasil, ficou firmado que seria criado um Centro Internacional de Economia Criativa, para articular as ações das várias agências do Sistema ONU, pois se trata de um tema transversal, já que ele tem a ver com trabalho, com propriedade intelectual, com cultura, com desenvolvimento, etc. (Fonseca, 2018). Ela ainda explica a relação com o governo atuante no período em questão, pois era o início do Governo Lula (Gilberto Gil era o ministro da Cultura) e o Brasil se ofereceu para sediar esse centro internacional. Ocorreu que Lala Deheinzelin passou a trabalhar com o Sistema ONU e a criação do centro, porém, não aconteceu por razões políticas, entre outras.

Lala Deheinzelin é futurista desde os anos 1990, e viu a necessidade de atualizar o conceito de indústria criativa para economia criativa, segundo ela, sendo mais amplo, includente e com objetivo de sustentabilidade e de crescimento sustentável mais do que de crescimento econômico. Esse foco em sustentabilidade e crescimento sustentável surgiu pelo fato de Lala ter analisado modelos importados na China, na Colômbia e em outros países. Viu-se então a necessidade de ações que combinadas com colaborativos em rede, iria conseguir resultados extraordinários. (Fonseca, 2018).

Profª. Ma. Sara Ruth Araújo Grangeiro

Docente do Curso de Curso de Design de Moda da UniAteneu

Mestra em Psicologia, tem MBA em Gestão de Design de Moda e é designer de Moda

1 Disponível em: https://www.todamateria.com.br/futurismo/ Acesso em 01 Ago. de 2019.

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