Transformação de medicamentos: da teoria para a prática

Você está visualizando atualmente Transformação de medicamentos: da teoria para a prática

A transformação da forma farmacêutica de medicamentos é uma prática extremamente tradicional que percorreu seu caminho com diversos percalços, desde a área hospitalar, magistral, e até mesmo dentro de casa. Muito se sabe da necessidade de formas farmacêuticas para casos e pacientes específicos, mas tal disponibilidade é limitada pelos amplos poderes do mercado farmacêutico. Afinal, é muito mais econômico viabilizar um produto na sua forma sólida, como cápsulas e comprimidos, do que na sua forma líquida, a qual possui menor estabilidade e os custos com transporte encarecem o medicamento, por exemplo.

A grande responsabilidade do farmacêutico sobre a transformação da forma farmacêutica é evidente e necessária nos grandes centros de saúde, como hospitais, cuja maior necessidade ocorre devido pacientes com tubos nasoenterais, com dificuldade de deglutição e entre pacientes infantis, ou como farmácias magistrais, onde o profissional se encarrega da escolha de um veículo adequado para que tal transformação, dos cálculos farmacêuticos inerentes ao processo e a sua viabilização. Tal situação decorre do quesito qualidade, eficácia, segurança e estabilidade do produto transformado, requerida para um tratamento funcional. Porém, o farmacêutico não possui esse mesmo acesso às casas, à pessoa individual, o que limita essa atuação a uma busca ativa do paciente, caso encontre essa necessidade.

A ausência de uma orientação eficaz para a transformação caseira, situação que vem ocorrendo muitas vezes sob orientação apenas médica, têm trazido problemas como ineficácia terapêutica e toxicidade, consequentemente elevando os custos para o paciente. É aquela mãe que não quer que o filho perceba que está tomando medicação, macera um comprimido no pilão em casa e põe escondido no sorvete. É aquele filho que quer dar medicamento para o pai já idoso, quebra o comprimido em 04 partes e dá um pouquinho por vez com a sopa. Com isso, há chances de o comprimido ser de liberação modificada, por exemplo, elevando a possível toxicidade do tratamento e a recusa na sua continuidade, reduzindo drasticamente a eficácia terapêutica.

Como esse quadro poderia ser revertido? Atualmente existe uma ampla acessibilidade de meios de comunicação, porém a busca ativa pelo paciente ao profissional não deve ser a única forma de acesso a essa informação que, por muitas vezes, é negligenciada com base no “não tem problema, eu já faço isso normalmente” pelo próprio usuário. Acredito que campanhas de conscientização relativas à transformação caseira de medicamentos e a orientação no momento da dispensação de forma clara sobre os riscos da mudança de forma farmacêutica, se fazem necessárias nesse contexto. Para que tal possibilidade possa vir a ser realidade, a base se inicia na graduação, com a importância dos conhecimentos básicos de farmacologia e farmacotécnica, reforçando a relevância de uma formação de qualidade para os nossos futuros profissionais.

Prof. Ma. Jéssica de Castro Fonseca
Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário Ateneu
Doutoranda e mestre em Ciências Farmacêuticas e graduada em Farmácia

Conheça mais sobre o Curso de Farmácia da UniAteneu.