A Sociologia Jurídica é uma ferramenta de leitura crítica da realidade. Torna-se indispensável para compreender como as grandes empresas multinacionais, as chamadas big techs, exercem um poder invisível, porém profundo, sobre a consciência das massas. Conforme Pierre Bourdieu já alertava, a dominação moderna se sustenta pelo controle simbólico, moldando a percepção da realidade. Hoje, esse controle é potencializado por algoritmos que filtram informações, criando bolhas e alimentando a polarização. Não se trata de um fenômeno acidental.
Como observa Byung-Chul Han, a divisão constante é uma estratégia de poder que transforma cidadãos em inimigos e esvazia a ação coletiva, e que não permeia apenas o cenário político brasileiro, mas também um contexto geopolítico mais amplo. Assim, Manuel Castells também explica que controlar fluxos de informação é controlar o próprio poder na sociedade em rede. Por isso, a defesa de uma comunicação “sem regulamentação” por parte das big techs não representa liberdade genuína, mas sim a manutenção de um mercado altamente lucrativo de dados e comportamentos manipulados.
O discurso midiático atua nesse mesmo sentido, defendendo tal “liberdade” e exercendo um poder de manipulação abrangente dentro das redes sociais. Ressalte-se que o papel do Direito é servir à sociedade, e não o contrário. Os direitos sociais resultam de conquistas históricas, geralmente alcançadas a partir de processos revolucionários. Contudo, o cenário atual é diferente. Basta observar o caso dos motoristas de aplicativos que, influenciados por campanhas patrocinadas e narrativas empresariais, passaram a rejeitar qualquer regulamentação estatal.
Muitos acreditam que direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como férias, 13º salário e jornada limitada, seriam “perdas de liberdade” e não conquistas históricas. Esse pensamento, moldado pela manipulação, transforma a renúncia de direitos em algo “voluntário” e até celebrado, enquanto amplia lucros corporativos e fragiliza o trabalhador. Trata-se de uma engrenagem internacional que garante a manutenção do status quo, levando populações inteiras a consentirem com a renúncia de seus próprios direitos. A Sociologia Jurídica nos ensina que o Direito, para ser justo, não pode se omitir diante de manipulações que ameaçam a base da cidadania.
Profª. Drª. Larissa Maria de Queiroz
Docente do Curso de Direito do Centro Universitário Ateneu.
Doutora em Estudos Interdisciplinares de Gênero e Políticas de Igualdade, mestra em Antropologia, especialista em Direito Processual e graúda em Direito.
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