Começo com a seguinte pergunta: “A felicidade existe?”. Para os mais diversos interlocutores, a resposta muitas vezes seria “sim”. No entanto, se mudamos a pergunta para “Você é feliz?”, é possível que a nova questão cause um desconforto duplo. Primeiro, porque aquele que ouve a pergunta não sabe a resposta, afinal, não tem clareza sobre o que poderia ser “felicidade”, então, não consegue responder ao questionamento. Em segundo lugar, talvez haja na sociedade atual uma certa expectativa de felicidade, e quem ouve o questionamento sente-se incomodado de não atender às expectativas de seu grupo social. Então, responde um “sim” acanhado, na expectativa de encerrar o assunto.
O pensamento aristotélico tem uma ideia de felicidade muito próxima ao que hoje chamamos de “autorrealização”, pois para o velho pensador, alcançar a felicidade era ligada a ideia de viver de forma virtuosa, e, por virtude, ele compreendia a realização plena do potencial das coisas. Desta forma, o ser humano consegue um potencial que lhe é próprio, que é a sua capacidade de raciocinar. Assim, desenvolver essa racionalidade abre o caminho para sermos capazes de viver de forma mais sábia e virtuosa, e segundo ele, mais feliz.
Encontramos algumas dessas preocupações presentes no mundo atual em linhas de pensamentos diversos. Afinal, se nos deparamos com a felicidade como um enigma a se solucionar, como algo a ser buscado, ou ainda, algo a ser cultivado, isso indica que a felicidade não é algo tão evidente, quiçá, espontâneo. Talvez ela esteja onde ainda não está, daí a busca por entender que ela é, o que há a ser buscado, um ser encontrado…
Abordagens nessa direção trazem consigo uma ideia de ajuste das expectativas sobre aquilo que controlamos (que depende de nós) e aquilo que não controlamos (que depende de fatores externos: outras pessoas, leis, economia etc.). Esse ponto por vezes é mal compreendido, como se fosse um autocondicionamento para negar os problemas existentes, algo como: “Se não considero mais aquilo um problema, então ele deixa de existir”, quando na verdade esse tipo de análise racional do cotidiano é mais sutil.
Não se trata de negar a existência das coisas que nos deixam tristes ou contrariados, não é negar a existência da dor. A questão é fazer um reexame sobre quais são as nossas reais prioridades, e qual valor daremos a determinados temas, ideias, ações ou coisas. Daí, também a ideia de duração dada à felicidade. Vários pensadores que meditaram sobre o tema, descartaram a possibilidade de que coisas passageiras, alegrias momentâneas (bens de consumo?) – mesmo em grande quantidade – fossem por si só um sinônimo de vida feliz.
Então por que não defender a ideia de que o próprio exercício de perguntar, questionar, buscar etc.,) seja um caminho para a felicidade…
Profª. Ma. Soraia Pereira Jorge de Sousa
Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Ateneu
Mestra em Psicologia e Subjetividade, especialista em Gerência de Recursos Humanos e graduada em Serviço Social.
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