O tema vem passeando pelos corredores de minha mente. Sendo professor há décadas, confesso: sinto-me perplexo e, ao mesmo tempo, profundamente preocupado com a missão que a docência terá de cumprir na formação dos alunos no futuro próximo. Essa preocupação me remete a uma passagem bíblica, registrada na segunda carta que o apóstolo Paulo enviou a seu discípulo Timóteo (2 Tm 3:1-17). Nela, Paulo alerta sobre tempos difíceis que estavam por vir e descreve mais de vinte características das pessoas daqueles dias.
Entre elas, a de que seriam “amantes de si mesmas” e “desobedientes aos pais e a qualquer tipo de autoridade”. Surge, então, uma pergunta inevitável: filhos que não respeitam os pais, a quem respeitarão? O renomado Dr. Içami Tiba, em seu livro “Formando Cidadãos Éticos”, menciona, na página 23, a chamada “geração asa e pescoço de frango”, referindo-se a pais que inverteram papéis com os filhos. Hoje, quem manda, quem determina e quem dá as ordens muitas vezes são as crianças. O melhor pedaço do frango é dado a elas; aos pais resta a asa e o pescoço.
Desafios do presente e do futuro
Qual será o papel do professor nesses tempos tão desafiadores? Vivemos uma crise comportamental sem precedentes: alunos agridem colegas, desrespeitam professores e ignoram gestores educacionais. Em conexão com as palavras bíblicas, não há como escapar dessa realidade: teremos diante de nós jovens em pleno desenvolvimento, imersos nas mais avançadas tecnologias, carregando o mundo na palma da mão, mas alheios – ou mesmo resistentes – às orientações de seus próprios pais.
Essa insubmissão já é visível dentro e fora da sala de aula. Diante disso, o professor do século XXI não poderá se limitar a ser um transmissor de conteúdos ou um preparador de alunos para provas. A sua missão será muito maior: precisará ser um arquiteto de experiências significativas, um cultivador de talentos e um farol seguro no meio da avalanche de informações que nos cerca.
Um novo perfil docente
O educador do futuro – que já começa hoje – terá de preparar os alunos para uma vida complexa, interconectada e em constante transformação. Isso exige não apenas domínio do conhecimento, mas também habilidades para formar valores, condutas e atitudes. Se no passado o professor era a ponte entre o aluno e o saber, agora terá de se tornar um construtor de percursos, moldando mentes e corações. Será preciso conciliar ensino de excelência, preparo emocional, ética e visão crítica, ajudando o estudante a navegar com segurança em um mundo em mudança acelerada.
Conclusão
O futuro próximo pede um professor multitarefa e multifuncional, capaz de unir conhecimento, humanidade e visão estratégica. Mais do que um simples educador, ele será mentor, guia e referência para gerações que viverão em um cenário cada vez mais desafiador.
Referência:
- BÍBLIA DO PREGADOR – 2009. Editora Evangélica Esperança – Almeida Revista e Atualizada – Segunda Timóteo, cap.3: 1-17
- IÇAME, Tiba. Formando cidadãos éticos. Jandira, São Paulo. 2023.
- PRADO, Ana. Entendendo o aluno do século 21. 2015. Direão de Arte Rob Friede.
Prof. Dr. José Deusimar Rodrigues
Docente do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Ateneu.
Doutor em Psicanálise, mestre em Psicologia do Desenvolvimento na Educação, especialista em Neurociência na Educação, em Psicanálise Clínico, em Psicanálise Didata, em Teoria Psicanalítica, em Educação, Gênero e Sexualidade, em Neurociência e Aprendizagem e em Neuropsicopedagogia Instituicional, Clínico e Hospitalar e graduado em Pedagogia e Teologia.
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