O estudante de Enfermagem e suas peculiaridades na graduação e interface na saúde mental

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Vários estudos nacionais e internacionais realizados com estudantes universitários evidenciam que quando do ingresso nas instituições de ensino, os acadêmicos se deparam com um ambiente bem diferente do Ensino Médio. O estresse intensificado em função da necessidade de socialização com os novos colegas e professores, das regras e dos conteúdos de aprendizagem exigem maior autonomia e responsabilidade. Além disso, as demandas decorrentes da conclusão do curso e as expectativas em relação ao futuro profissional e inserção no mercado de trabalho. Na área da Saúde e, particularmente, quando mencionamos a Enfermagem, o sofrimento é intensificado em função dos estágios e demais atividades que colocam o acadêmico diante da doença, morte e do sofrimento de pacientes e familiares(1).

Na Enfermagem, as atividades de estágios das disciplinas no ciclo profissionalizante caracterizam-se como prática profissional por oportunizar a troca de experiências e o aprendizado, contribuindo para a aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades técnicas e de cunho relacional. Então, nesse contexto, a convivência do acadêmico com as instituições de saúde, os profissionais, pacientes e familiares cujos conhecimentos favorecem a inserção do futuro profissional no sistema de saúde. Porém, nas questões de apreender as competências e habilidades de cunho assistencial, relacional e gerencial, configura-se como um grande desafio para os graduandos por serem jovens, com pouca experiência ou inexperientes além de não terem desenvolvido mecanismos adaptativos diante de estressores ocupacionais(2).

Mesmo na perspectiva da formação, apesar de os acadêmicos atuarem nas instituições de Saúde sob a supervisão do professor, convivem diariamente com inúmeros problemas de ordem organizacional que caracterizam-se como de alta exigência e baixo controle em face dos riscos psicossociais envolvidos. Dentre eles: a alta carga horária, o cuidado de pacientes críticos e com risco de morte, o baixo poder decisório e a inexperiência para o enfrentamento de situações imprevisíveis. Tais riscos provocam e vem à tona alterações do padrão de sono, cansaço, ansiedade, sensações desagradáveis no estômago e cefaleia, evidenciando sinais e sintomas preditores de transtornos mentais comuns (TMC)(3).

Alguns estudos de TMC em acadêmicos de Enfermagem que buscou verificar a associação desses transtornos com o consumo de álcool e tabaco evidenciou que 46,1% da amostra apresentam sinais e sintomas prevalentes de humor depressivo ansioso, somatização e decréscimo da energia vital, não sendo estabelecida a associação com o consumo dessas substâncias. Os dados são relevantes por contribuírem para a prevenção do desenvolvimento de um quadro clínico psicopatológico, possibilitando também a realização de programas institucionais preventivos do consumo de álcool e outras drogas no grupo (4).

Com isso, a especificidade do ato de cuidar do ser humano em seus diferentes ciclos vitais, a Enfermagem e as instituições formadoras devem unir esforços com o intuito de promover ações de cunho preventivo e terapêutico junto aos acadêmicos que minimizem a possibilidade de transtornos mentais severos e o consumo de álcool e outras drogas.

1 Pandovani RC, Neufeld CB, Maltoni J, Barbosa LNF, Souza WF, Cavalcanti HAF, et al. Vulnerabilidade e bem-estar psicológicos do estudante universitário. Rev Bras Ter Cogn. 2014;10(1):2-10. doi: 10.5935/1808-5687.20140002
» https://doi.org/10.5935/1808-5687.20140002

2 Garcia SD, Ignotti BS, Ciciliato CZ, Vannuchi MTO. The meaning of nursing internship to inters at a public university. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2015 [cited 2018 Jan 2];22(2):212-8. Available from: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/13601
» https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/13601

3 Oliveira EB, Costa SLT, Guimarães NSL. O trabalho do acadêmico de enfermagem no hospital geral: riscos psicossociais. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2012 [cited 2018 Jan 03];20(3):317-22. Available from: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/2950
» https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/2950

4 Silva BP, Corradi-Webster CM, Gherardi-Donato ECS, Hayashida M, Siqueira MM. Common mental disorders, alcohol consumption and tobacco use, among nursing students at a public university in the western Brazilian Amazon. Smad, Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. 2014;10(2):93-100. doi: 10.11606/issn.1806-6976.v10i2p93-100
» https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v10i2p93-100

Profª. Drª. Aline Mesquita Lemos
Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Ateneu
Doutora em Saúde Coletiva, mestra em Enfermagem, especialista em Atenção ao Paciente Crítico: Urgência, Emergência e UTI, em Saúde Mental e em Saúde da Família e graduada em Enfermagem.

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