Individualidade na era do meme

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Na Internet, tornou-se natural nos depararmos com os conhecidos “memes”. Para a maioria das pessoas, esse termo representa uma imagem ou vídeo de uma situação, acompanhados de uma frase ou legenda que dá o tom cômico da publicação. Contudo, o tão famigerado meme é muito mais do que uma forma de humor característica dos tempos de redes sociais. Ainda na década de 1970, o biólogo e pesquisador Richard Dawkins definiu meme como tudo aquilo que se repete ou se reproduz socialmente. Mais do que simples peças de humor, memes são repetições de ideias, estilos de vida, frases, pensamentos ou qualquer outra forma de conhecimento. Assim, podemos dizer que a Internet não criou o meme, mas potencializou a imitação e a repetição desses conteúdos por cada vez mais pessoas ao redor do mundo.

Essa proliferação desenfreada de ideias e a tendência a repeti-las e compartilhá-las acaba dando palco, muitas vezes, a ideias perigosas. Por meio dos memes, são difundidos ideais de beleza inalcançáveis, discursos de exclusão e ódio, noções de enriquecimento fácil e muitos outros conceitos que de tanto serem repetidos, acabam sendo naturalizados. Não é incomum vermos tentativas desesperadas de mudar a forma do corpo para se adequar a parâmetros de saúde irreais ou de obter bens materiais (por vezes, de formas questionáveis), simplesmente para se adequar aos padrões impostos pelas redes sociais.

Na era do meme, por vezes esquecemos daquilo que nos torna humanos: nossa individualidade. Em Psicologia, chamamos de subjetividade aquilo que nos torna únicos, diferentes de todos as outras pessoas. Nesses tempos, parece que estamos abdicando daquilo nos faz especiais e singulares, em detrimento de padrões tão estritos que podem chegar a ferir quem nós somos. Parece segura admitir que, atualmente, muitos conflitos pessoais surgem da discrepância entre a forma como percebemos o nosso estilo de vida, a nossa forma de pensar, o nosso corpo e esses referenciais artificialmente construídos. Entretanto, esses memes, por mais naturais que pareçam, surgem a partir de corte do cotidiano, que tem como único objetivo capitalizar o ideal da vida perfeita.

Enquanto lutamos para nos adequar àquilo que vimos todos os dias na Internet, grandes marcas faturam sobre o sofrimento das pessoas comuns nessa triste busca pela vida perfeita. Assim, é necessário refletir sobre as ideias e ideais que repetimos, seja na Internet, ou para nós mesmos em nossa vida íntima. Será que é mesmo necessário nos alinharmos a essa massa de pessoas iguais? Será que realmente precisamos pensar, falar e agir como todos os outros? Será que todos nós precisamos seguir o estilo de vida dos “blogueiros e blogueiras” para sermos saudáveis e especiais? Será que, para sermos felizes, precisamos que nossa vida seja um meme?

Prof. Ms. Leonardo Carneiro Holanda

Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Ateneu

Doutorando, mestre e graduado em Psicologia

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