A formação de profissionais de qualquer área de atuação precisa responder a constantes demandas, sejam de ordem social, política ou econômica. Um bom exemplo é a parcela da população crescente que usa o Sistema Único de Saúde (SUS), em contraponto à parcela que usa os serviços prestados pelo setor privado da saúde. Com a Odontologia não é diferente. Levando em conta que mais de 190 milhões de brasileiros (80%) dependem, exclusivamente, dos serviços públicos para qualquer atendimento de saúde (BRASIL, 2021), é pertinente, então, que a formação dos dentistas seja direcionada para o SUS, que, aliás, segundo Lima et al (2021), tem sido um dos pressupostos mais desafiadores nos cursos de Odontologia no Brasil.
Para isso, instituições de ensino superior (IES), gestores e docentes entendem como fundamental que essa formação prepare os futuros profissionais não apenas para ações curativas e de manutenção da saúde, mas incluam também, uma implementação das ações voltadas para prevenção e promoção à saúde, tendo como eixos a formação para atuação na Atenção Primária; responsabilidade social e trabalho interdisciplinar; gestão em saúde; sistemas de informação; e por fim, educação permanente (LIMA et al, 2021).
Segundo os autores (2021), avanços significativos na perspectiva de uma maior adequação da proposta formativa voltada para o SUS já são percebidos nas matrizes curriculares dos cursos de Odontologia, todavia, ainda persistem desafios decorrentes da tradicional formação. Parte desses avanços deve-se ao entendimento que a garantia de atenção odontológica passa pelo desenvolvimento de práticas pautadas na vigilância em saúde, a fim de concretizar um dos princípios pilares do SUS, a integralidade (NEVES et al, 2019).
A formação em Odontologia voltada ao SUS deve primar por concepções que reafirmem a necessidade de mudanças no modo de pensar e fazer saúde pública, gerado pela ruptura diante do paradigma do saber em saúde centrada na doença e se volte ao aprender em saúde, com foco no indivíduo e nos seus cotidianos sociais (LIMA et al, 2021).
As mobilizações formativas nos cursos de Odontologia devem passar pelos avanços institucionais e políticos que ressaltem a estratégia de como conduzir a aproximação do processo formativo com as necessidades dos serviços e não somente isso, mas por uma nova cultura dos profissionais formados, que mostram a que vieram, mostram resultados relevantes para a saúde pública. Afinal de contas, “quem não é visto, não é lembrado” (já diz um famoso ditado popular). Portanto, mostrar resultados de impacto na saúde pública evidencia o papel sem igual que tem a Odontologia.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde. Maior sistema público de saúde do mundo, SUS completa 31 anos.
[Internet]. Universidade Aberta do SUS, Brasília, 2021. Disponível em <https://abrir.link/sIKuj >. Acesso em 07 ago. 2022.
LIMA, J. B. S.; OLIVEIRA, A. G. R. C.; NORO, L. R. A. Avanços e desafios da formação no Sistema Único de Saúde a partir da vivência dos docentes da área de Saúde Coletiva nos cursos de Odontologia. [Internet]. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 26, n. 8, p.3323-3334, 2021. Disponível em < https://www.scielo.br/j/csc/a/SC7MStczf97WyMrBVpMpFqS/?format=pdf&lang=pt> Acesso em 07 ago. 2022
NEVES, M.; GIORDANI, J. M. A.; HUGO, F. N. Atenção primária à saúde bucal no Brasil: processo de trabalho das equipes de saúde bucal. [Internet]. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 24, n. 5, p. 1809-1820, 2019. Disponível em <https://www.scielo.br/j/csc/a/bhf7HrChW3gg8SdkFpf793r/?format=pdf&lang=pt> Acesso em 07 ago. 2022.
Prof. Me. Emanuel Rodrigues Morais
Docente do Curso de Odontologia do Centro Universitário Ateneu
Mestre em Saúde Pública, especialista em Práticas Clínicas em Saúde da Família e graduado em Odontologia
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