Segundo o Fórum Mundial de Recursos Humanos em Saúde, todo sistema de saúde requer necessariamente mão-de-obra qualificada e em quantidade1 e para Cayetano (2019), o planejamento e as políticas públicas em saúde devem considerar as características pessoais e expectativas dos estudantes quanto ao ingresso no mercado de trabalho a fim de regular o equilíbrio entre o que é ofertado pelas instituições de ensino e o que o mercado de trabalho é capaz de absorver2, sem comprometer obviamente, a expectativa do estudante.
Pesquisadores ao redor do mundo estudam as expectativas, em curto e longo prazo, dos estudantes de último ano de graduação, a fim de buscar evidências científicas que auxiliem gestores e formuladores de políticas públicas na tomada de decisão e no planejamento de suas ações no que diz respeito aos recursos humanos em saúde. Quanto às expectativas em relação ao futuro profissional de Odontologia, 70% pretendem trabalhar como autônomo, 61,36% no serviço público e somente 28,7% pretendem trabalhar no ensino2.
Em 2004, com a criação do Brasil Sorridente, registrou-se um aumento da contratação de cirurgiões-dentistas no sistema público de saúde e em 10 anos, só na Atenção Primária à Saúde, esse número cresceu mais de 60%, colocando o Sistema Único de Saúde (SUS) como uma possibilidade concreta de atuação profissional para o cirurgião-dentista brasileiro3. Portanto, uma formação qualificada de cirurgiões-dentistas para atuarem no SUS é inconteste.
No Brasil, existe um cirurgião-dentista para 645 habitantes, sendo que o recomendável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é um cirurgião-dentista para 1.200 habitantes. Em apenas quatro anos, de 2015 a 2019, o número de instituições de ensino que ofertam a graduação em Odontologia cresceu 87%, passando de 220 para 412 faculdades4. O resultado imediato disto é que o mercado de trabalho da Odontologia brasileira está com um número muito maior de profissionais do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (a maioria das regiões do país tem número suficiente de dentistas) e estratégias devem ser pensadas para promover a migração destes profissionais para regiões de maior necessidade5.
Está evidente a necessidade de um diálogo mais estreito entre o ente público e as instituições de ensino com vistas à formulação de políticas públicas para uma formação integral, responsável e equilibrada de cirurgiões-dentistas, tanto do ponto de vista acadêmico quanto mercadológico. Ignorar isto pode comprometer a médio e longo prazo o exercício sustentável da profissão.
REFERÊNCIAS
- Campbell J, Dussault G, Buchan J, Pozo-Martin F, Guerra Arias M, Leone C, Siyam A, Cometto G. A universal truth: no health without a workforce. Forum Report, Third Global Forum on Human Resources for Health, Recife, Brazil. Geneva, Global Health Workforce Alliance and World Health Organization, 2013. Disponível em: < https://www.researchgate.net/profile/Gilles-Dussault/publication/270561476_A_Universal_Truth_No_Health_Without_a_Workforce/links/626cf852b277c02187d7cbef/A-Universal-Truth-No-Health-Without-a-Workforce.pdf> Acesso em 22 jan. 2023.
- CAYETANO, Maristela Honório et al. O perfil dos estudantes de Odontologia é compatível com o mercado de trabalho no serviço público de saúde brasileiro?. Revista da ABENO, v. 19, n. 2, p. 2-12, 2019. Disponível em: <https://revabeno.emnuvens.com.br/revabeno/article/view/736> . Acesso em 20 jan. 2023.
- Pucca GA Jr, Gabriel M, de Araujo ME, de Almeida FC. Ten Years of a National Oral Health Policy in Brazil: innovation, boldness, and numerous challenges. J Dent Res. 2015;94(10):1333-7. Disponível em < https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0022034515599979?journalCode=jdrb> Acesso em 22 de jan. 2023.
- Conselho Federal de Odontologia, Rio de Janeiro, CFO, 2019. Disponível em: < https://website.cfo.org.br/cfo-reforca-necessidade-do-ministerio-da-educacao-suspender-autorizacoes-para-abertura-de-novos-cursos-de-odontologia/#:~:text=Em%20apenas%20quatro%20anos%2C%20de,hoje%20n%C3%A3o%20passe%20por%20mudan%C3%A7as.> Acesso em 20 jan. 2023.
- SAN MARTIN, Alissa Schmidt et al. Distribuição dos cursos de Odontologia e de cirurgiões-dentistas no Brasil: uma visão do mercado de trabalho. Revista da ABENO, v. 18, n. 1, p. 63-73, 2018. Disponível em: <https://revabeno.emnuvens.com.br/revabeno/article/view/399> Acesso em 24 de jan. 2023. DOI: https://doi.org/10.30979/rev.abeno.v18i1.39969.
Prof. Me. Emanuel Rodrigues Morais
Docente do Curso de Odontologia do Centro Universitário Ateneu
Mestre em Saúde Pública, especialista em Práticas Clínicas em Saúde da Família e graduado em Odontologia
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