Uso da Tecnologia da Informação e Comunicação para inovação no autocuidado em Nutrição

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O cenário epidemiológico brasileiro é predominantemente de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como hipertensão (HAS), diabetes mellitus (DM) e obesidade (1). A morbimortalidade das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil é extremamente elevada, e corresponde a aproximadamente 75% das causas dos óbitos em pessoas de 30 a 69 anos. Este importante problema da saúde pública mundial que tem como principais fatores de risco o tabagismo, a alimentação não saudáveis, o consumo abusivo de bebida alcóolica, além da baixa prática de atividade física, tem afetado a qualidade de vida da população e o desenvolvimento do país (1-2).

A pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) trouxe à tona a discussão de como as comorbidades associadas as DCNT podem agravar as condições clínicas de infecções e de seu impacto no aumento da mortalidade, mas também, promoveu mudanças no estilo de vida e no autocuidado (2). As ações preventivas para a HAS, o DM e a obesidade são necessárias, inclusive, na perspectiva de futuras pandemias. Este medo da contaminação e da morte que teve impacto direto na rotina de vida e cuidado das pessoas, foi um comportamento percebido nas unidades de saúde, com consequente redução das visitas as unidades da Estratégia de Saúde da Família (ESF) (3).

Esta “quebra” de continuidade do cuidado na atenção primária a saúde (APS) veio acompanhada de sofrimento mental, fruto do isolamento social, e que possivelmente acarreta pioras pressóricas e metabólicas, apontando para a necessidade de outras medidas apoiadas na urgência de redução desses problemas (4).

Nesse sentido, se faz necessário, além de medidas de apoio à saúde e higiene pessoal, que vão nos instrumentos informativos relacionados à Covid-19, que se paute propostas  educativas, incluindo ferramentas virtuais para a Nutrição, de forma a promover a saúde e diminuir as aglomerações na rede de atenção primária e mitigando o contágio de doenças, dos usuários dos sistemas de saúde entre si como entre estes e dos profissionais de saúde, reduzindo o número de  exposições a pessoas e sua transmissibilidade (5).

Para a temática da Nutrição neste contexto é preciso ter em mente a segurança alimentar e nutricional (SAN), De acordo com a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan) (Lei nº 11.346, de 15 de julho de 2006), SAN é o “direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis” (6).

Portanto, o uso de ferramentas virtuais para garantir as ações de cuidado nutricional para redução da morbimortalidade relacionada as DCNT são mais do que mais uma forma de educação ou orientação nutricional, fazem parte das estratégias de democratização do cuidado com capacidade de colaborar para a SAN destas pessoas. As ferramentas virtuais vêm sendo muito discutidas no contexto de promoção de um maior controle de doenças não transmissíveis, principalmente, da população desprovida de assistência e redução das consequências que elas podem causar (7).

No âmbito da Nutrição é importante destacar, que apesar do crescente número de apps do tipo m-health, a maioria se concentra na categoria bem-estar, havendo uma significativa lacuna de apps voltados a atender doenças epidemiologicamente significativas. Essa ação, por si, gera duplo impacto positivo: economia direta com uso da atenção básica e ação preventiva para outras doenças transmissíveis e de alta prevalência que caso não tratadas corretamente (ex. hipertensão e diabetes) degeneram em condições mais graves no futuro. Com isso, acaba-se incentivando a necessidade de maiores investimentos na rede de atenção básica (8).

Referências

  1. Chaves-Costa FB, de Oliveira-Branco JG, Rocha-Aguiar FA, Bezerra da Silva Júnior G, de Lima-Saintrain MV, Fontenelle Catrib, AM. Avanços para redução da morbimortalidade das doenças crônicas não transmissíveis na população brasileira. Revista Gerencia y Políticas de Salud. 2019;18(37). https://doi.org/1 0.11144/Javeriana.rgps18-37.armd
  2. Wehrmeister, Fernando C., Wendt, Andrea T. e Sardinha, Luciana M.V.Iniquidades e Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde [online]. v. 31, n. spe1 [Acessado 21 Julho 2023] , e20211065. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/SS2237-9622202200016.especial>. ISSN 2237-9622. https://doi.org/10.1590/SS2237-9622202200016.especial.
  3. Malta DC, Gomes CS, Barros MB de A, Lima MG, Almeida W da S de, Sá ACMGN de, et al.. Doenças crônicas não transmissíveis e mudanças nos estilos de vida durante a pandemia de COVID-19 no Brasil. Rev bras epidemiol [Internet]. 2021;24:e210009. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-549720210009
  4. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS). Protocolo de Manejo Clínico do Coronavírus – COVID-19 na Atenção Primária à Saúde – Versão 6., 2020b. Disponível em https://saude.gov.br/images/pdf/2020/marco/30/20200330-ProtocoloManejo-ver06- Final.pdf. Acesso em: 4 mar. 2020b. BRASIL. Ministério da Saúde. NOTA T
  5. Précoma DB, Oliveira GMMd, Simão AF, Dutra OP, Coelho OR, Izar MCdO, et al. Atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia &#8211; 2019. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2019;113(4):787-891.
  6. Kepple AW, Segall-Corrêa AM. Conceituando e medindo segurança alimentar e nutricional. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2011Jan;16(1):187–99. Available from: https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000100022
  7. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Ministério da Saúde (MS), Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de Análise de Situação de Saúde. 2011.
  8. Relatório de Acompanhamento Técnico Projeto Governança Inteligente de Sistemas de Saúde. Instituto Atlântico (IA). 2019; Mimeo:44.

Profª. Drª. Kamila Maria Oliveira Sales
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Ateneu
Doutora e mestra em Ciências Médicas, especialista em Nutrição Clínica Funcional, em Nutrição Clínica e em Fisiologia do Exercício e graduada em Nutrição

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