Um breve relato sobre o HIV

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A inflamação é uma resposta biológica/fisiológica que protege o organismo vivo de agentes exógenos, como patógenos e diversos tipos de corpos estranhos abióticos. A inflamação envolve a atração de leucócitos e o extravasamento de proteínas plasmáticas para as zonas de infecção, bem como a ativação desses leucócitos e proteínas para eliminar o agente infeccioso. Processos de inflamação de curto prazo e controlados são parte de uma resposta imunológica que permite ao corpo combater e eliminar efetivamente agentes potencialmente perniciosos.

No entanto, a inflamação descontrolada e a inflamação crônica podem ser fatais e são características de doenças infecciosas crônicas, como a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) (HIGHLEYMAN, 2010). Pessoas infectadas pelo HIV sofrem de processos inflamatórios crônicos que promovem o aparecimento de complicações relacionadas à síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) (DEEKS; TRACY; DOUEK, 2013).

Do ponto de vista da pesquisa de cura do HIV, é essencial ter em mente que outros tipos de células podem ser infectados pelo HIV. Particularmente, monócitos e macrófagos são considerados importantes, uma vez que se demonstrou que eles abrigam grandes quantidades de partículas virais dentro dos endossomos intracelulares (CAMPBELL et al., 2014). Vale ressaltar que essas são células de longa duração, podendo permanecerem ativas por semanas ou até mesmo anos, além de poderem se infiltrar em vários tecidos, incluindo o sistema nervoso central, onde são resistentes aos efeitos citolíticos da infecção pelo HIV, podem produzir quantidades significativas de vírus e acreditam ser um dos principais contribuintes transmissão celular, mesmo durante a terapia anti-retroviral (Tarv) (ORENSTEIN; FOX, 1997).

Os efeitos diretos do tratamento com ART nos macrófagos são complexos e ainda pouco. Um estudo ex vivo em nove camundongos somente em células mielóides infectados com HIV trópico M e tratados por sete semanas com ART, evidenciou o efeito rebote viral convencional em três camundongos (33%) após a interrupção da terapêutica (HONEYCUTT et al., 2017) no estudo não explica o motivo do rebote viral em 33% dos camundongos.

As vacinas terapêuticas para a infecção pelo HIV devem ter como objetivo induzir células T CD4 e CD8 a realizar uma ação anti-viral e a síntese de anticorpos neutralizantes, uma vez que essas respostas imunológicas funcionam em conjunto para controlar a replicação viral (PRINS et al., 1999). Além de ampliar essas respostas imunes, será importante gerar células T polifuncionais (capazes de produzir múltiplas citocinas e realizar funções efetoras), já que observa-se a longo prazo uma não progressão de células T específicas para o HIV (KANNANGANAT et al., 2007). Devido ao grande poder mutagênico do HIV, é fundamental gerar amplas respostas celulares para escapar da pressão imunológica (DENG et al., 2015).

Embora a maioria das pesquisas de vacinas tenha se concentrado na prevenção, numerosos estudos clínicos de vacinas terapêuticas em indivíduos infectados pelo HIV foram realizados. Alguns deles mostraram pequenas quedas na carga viral (0,5 a 1 log drop) usando várias abordagens para impulsionar o sistema imunológico. Por exemplo, no estudo Reduc de braço único, os indivíduos receberam doses múltiplas de Vacc-4 × (um peptídeo gag sintético) com fator estimulador de colônias de granulócitos recombinantes humanizados (rhu-GM-CSF) seguido pela administração do inibidor de HDAC romidepsina. Como justificativa, os autores do estudo basearam-se em dados anteriores que sugeriram a morte de células infectadas, induzida pela vacina Vacc-4 × / rhu-GM-CSF (LETH et al., 2016).

Referências bibliográficas:

CAMPBELL, Jennifer H. et al. The importance of monocytes and macrophages in HIV pathogenesis, treatment, and cure. Aids, v. 28, n. 15, p. 2175-2187, 2014.
DEEKS, Steven G.; TRACY, Russell; DOUEK, Daniel C. Systemic effects of inflammation on health during chronic HIV infection. Immunity, v. 39, n. 4, p. 633-645, 2013.
DENG, Kai et al. Broad CTL response is required to clear latent HIV-1 due to dominance of escape mutations. Nature, v. 517, n. 7534, p. 381, 2015.
HIGHLEYMAN, L. Inflammation, immune activation, and HIV. BETA: bulletin of experimental treatments for AIDS: a publication of the San Francisco AIDS Foundation, v. 22, n. 2, p. 12-26, 2010.
HONEYCUTT, Jenna B. et al. HIV persistence in tissue macrophages of humanized myeloid-only mice during antiretroviral therapy. Nature medicine, v. 23, n. 5, p. 638, 2017.
KANNANGANAT, Sunil et al. Multiple-cytokine-producing antiviral CD4 T cells are functionally superior to single-cytokine-producing cells. Journal of virology, v. 81, n. 16, p. 8468-8476, 2007.
LETH, Steffen et al. Combined effect of Vacc-4x, recombinant human granulocyte macrophage colony-stimulating factor vaccination, and romidepsin on the HIV-1 reservoir (REDUC): a single-arm, phase 1B/2A trial. The Lancet HIV, v. 3, n. 10, p. e463-e472, 2016.
ORENSTEIN, Jan M.; FOX, Cecil; WAHL, Sharon M. Macrophages as a source of HIV during opportunistic infections. Science, v. 276, n. 5320, p. 1857-1861, 1997.
PRINS, Jan M. et al. Immuno-activation with anti-CD3 and recombinant human IL-2 in HIV-1-infected patients on potent antiretroviral therapy. Aids, v. 13, n. 17, p. 2405-2410, 1999.
SCHMITZ, Jörn E. et al. Control of viremia in simian immunodeficiency virus infection by CD8+ lymphocytes. Science, v. 283, n. 5403, p. 857-860, 1999.

Profª. Drª. Viviane de Sousa Tomaz
Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Ateneu
Doutora e mestra em Microbiologia Médica, especialista em Enfermagem Neotal e Pediátrica e graduada em Enfermagem.

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