Interpretação crítica dos marcadores cardíacos na prática clínica

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Nas últimas décadas, a Bioquímica Clínica evoluiu significativamente, sobretudo, no campo dos marcadores cardíacos. Troponinas, CK-MB, BNP e outros passaram a ser fundamentais no suporte diagnóstico de síndromes coronarianas e insuficiência cardíaca. No entanto, essa tecnologia trouxe consigo um desafio silencioso: a interpretação isolada dos resultados laboratoriais, muitas vezes descolada do contexto clínico.

Troponinas, por exemplo, são amplamente utilizadas como padrão-ouro no diagnóstico de infarto agudo do miocárdio. No entanto, elas também se elevam em outras condições, como insuficiência renal, sepse e embolia pulmonar. A elevação isolada, sem sintomatologia compatível ou alterações eletrocardiográficas, pode induzir a erros graves de conduta. O que era para ser um marcador de suporte passa a ser, equivocadamente, o único marcador de decisão clínica.

O mesmo vale para o BNP e NT-proBNP, utilizados na avaliação da insuficiência cardíaca. Apesar de sua alta sensibilidade, são influenciados por idade, função renal, obesidade e até por medicações. A sua interpretação sem considerar o quadro clínico pode levar à medicalização desnecessária ou ao mascaramento de diagnósticos diferenciais importantes.

É fundamental que o profissional de saúde compreenda que nenhum exame laboratorial substitui o raciocínio clínico. Os marcadores são ferramentas valiosas quando usados com critério, integrados à anamnese, ao exame físico e a outros achados complementares. A prática baseada apenas em números tende a gerar excessos diagnósticos, custos desnecessários e riscos ao paciente.

Marcadores cardíacos são excelentes aliados, quando correlacionados com o olhar clínico. Isolados podem confundir mais do que esclarecer, mascarando diagnósticos ou levando a condutas precipitadas. É no equilíbrio entre o conhecimento técnico e a escuta ativa do paciente que a boa prática floresce. Afinal, por trás de cada resultado há uma história – e interpretá-la com responsabilidade é o que diferencia o profissional que apenas executa daquele que verdadeiramente cuida.

Profª. Ma. Yasmim Mendes Rocha
Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário Ateneu.
Doutoranda e mestra em Ciências Farmacêuticas, especialista em Biomedicina Estética e graduada em Biomedicina.

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