As cidades contemporâneas enfrentam desafios ambientais crescentes, como enchentes, ondas de calor, poluição do ar e perda de biodiversidade. Diante desse cenário, ganha relevância o conceito de infraestrutura verde – um conjunto de soluções baseadas na natureza que buscam integrar sistemas ecológicos ao tecido urbano, promovendo benefícios ambientais, sociais e econômicos. Tais estratégias, ao contrário das infraestruturas cinzas convencionais, operam em harmonia com os ciclos naturais, contribuindo para a resiliência das cidades e para o bem-estar da população.
Conforme pesquisas realizadas sobre esse tema, pode-se dizer que a infraestrutura verde é “uma rede estrategicamente planejada de áreas naturais e seminaturais que oferecem uma ampla gama de serviços ecossistêmicos”. Isso inclui desde parques urbanos, telhados verdes, jardins de chuva e pavimentos permeáveis até a proteção de matas ciliares e corredores ecológicos. A aplicação dessas soluções no contexto urbano é reconhecida por sua eficácia em mitigar impactos ambientais, melhorar o microclima, reduzir a impermeabilização do solo e fomentar a biodiversidade urbana.
No Brasil, cidades como Curitiba, Recife e São Paulo já experimentam iniciativas que incorporam elementos de infraestrutura verde, embora ainda de forma pontual. O Plano Diretor Estratégico de São Paulo (2014), por exemplo, já reconhece a importância de espaços verdes no planejamento urbano. No entanto, a ausência de políticas públicas integradas, a fragmentação entre setores e a visão tradicional de urbanismo centrada em obras de concreto dificultam a sua ampla adoção.
Além disso, há um desafio cultural e político: muitos gestores públicos ainda veem áreas verdes como espaços de lazer e não como componentes essenciais da resiliência urbana. Como destacam vários estudiosos na área, a infraestrutura verde precisa ser compreendida como parte fundamental da infraestrutura urbana, equiparada em importância a redes de água, esgoto ou energia. Essa mudança de paradigma exige uma atuação mais incisiva de urbanistas, arquitetos e engenheiros na defesa da multifuncionalidade dos espaços urbanos.
A emergência climática, com eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos, reforça a urgência da adoção de estratégias integradas que aliam planejamento urbano e ecologia. Infraestruturas verdes não apenas oferecem soluções técnicas de controle de cheias e melhoria da qualidade do ar, como também promovem saúde pública, inclusão social e valorização imobiliária. Em um país marcado por profundas desigualdades urbanas, investir em infraestrutura verde é também um caminho para a justiça socioambiental.
Pode-se dizer então, que a infraestrutura verde não deve ser tratada como um adorno urbano ou uma tendência estética, mas como uma estratégia estruturante para o futuro das cidades. Superar o paradigma da urbanização predatória e caminhar em direção a cidades resilientes passa, inevitavelmente, pela incorporação planejada, interdisciplinar e participativa das soluções baseadas na natureza.
Profª. Drª. Maria Estela A. Giro
Docente do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Ateneu.
Doutora em Biotecnologia, mestre e graduada em Engenharia Química. Tem experiência na área de Engenharia Química, com ênfase em Processos Bioquímicos, atuando, principalmente, nos seguintes temas: Fermentação, imobilização celular e remoção de H2S.
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