Devoradores de espaço (ou a lógica do caos padronizado)

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Para o célebre historiador Lewis Mumford, o meio mais eficaz de se destruir uma cidade é a introdução de vias expressas de muitas pistas, especialmente, as elevadas, no tecido adensado. Essa escolha transforma as urbes em “cidades de estacionamento”, pois grande parte do espaço é destinada aos carros, sobrando muito pouco para as outras funções da cidade.

A decisão irrestrita por vias expressas e estacionamentos, que tem como base um programa rodoviário de transporte individual “de porta em porta”, só poderia levar à devastação das cidades. O resultado, todos conhecem, é a multiplicação de enclaves de congestionamento em razão das ruas ficarem desesperadamente atulhadas. Esse modelo, claro, em nada contribuiu para a solidificação da vida social, pois torna a cidade um pesadelo de ineficiência e desumanidade.

E como o profissional arquiteto deve se inserir nessa questão? Deve compreender que não se pode transformar uma função subordinada em única razão de existência da cidade, ou melhor dizendo, de sua não existência. A escolha por tal modelo nega as funções essenciais da cidade – cooperação, comunicação, comunhão, encontro, mistura e mobilização –, que exigem, ainda conforme Munford, “um recipiente onde uma grande diversidade de atividades possa ter lugar simultaneamente”.

Tal recipiente, para que possa ser suficientemente econômico de espaço, exige uma rede diversificada de transporte, com ênfase na modalidade pública. As amplas distâncias que o cidadão percorre a pé dos estacionamentos aos edifícios de serviços e comércio, poderiam se transformar nos recomendáveis 500m de raio para se alcançar essas mesmas atividades, mas a partir de sua residência ou da integração dos modos de transporte.

Os estacionamentos são dispendiosos e vazios quando não há atividades de multidão, enquanto as calçadas permanecerão sempre ocupadas se a opção for pela diversidade. Esta escolha contribui para manter a cidade aberta e pública, favorecendo os aspectos paisagísticos da urbe e a segurança do cidadão. O arquiteto – o desenhista da cidade – se prepara para o enfrentamento dessa complexa questão.

Prof. Dr. Antônio Martins da Rocha Júnior
Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Ateneu
Doutor em Arquitetura e Urbanismo, mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, especialista em Aperfeiçoamento em Arquitetura/Instrumentação Crítica e graduado em Arquitetura e Urbanismo.

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