Bioquímica: temida ou incompreendida?

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Como professor de Bioquímica Humana e Vegetal há mais de 10 anos, comumente testemunho o desespero dos alunos de nível superior quando se deparam com essa disciplina em sua grade curricular. Essa questão me fez refletir desde quando comecei a ministrá-la em 2004: Por que a Bioquímica é tão temida? A Bioquímica é uma ciência fascinante que elucida processos químicos e moleculares que dão origem e sustentam a vida. Porém, a sua complexidade e a necessidade de entendimento de diferentes áreas do conhecimento, como Biologia, Química e Física, fazem dela um grande desafio para os estudantes.

Na maioria das vezes, a dificuldade começa pela falta de compreensão dos conceitos abstratos e pela nomenclatura técnica, que podem tornar o aprendizado inicial confuso e sem sentido. Soma-se a isso, o fato de que a abordagem tradicional do ensino da Bioquímica pode ser um dos fatores que contribuem para o receio dos alunos. Muitos professores ainda insistem em ministrá-la obrigando o estudante a memorizar diversos ciclos metabólicos, nomes de enzimas e equações químicas, sem uma relação direta com a aplicação fisiológica, clínica ou industrial.

Esse distanciamento da realidade torna o aprendizado mecânico e desinteressante. Fato esse comprovado quando levamos os alunos ao laboratório para presenciar na prática os conceitos teóricos abordados em sala de aula, pois percebemos claramente o encanto com a visualização dos fenômenos biológicos observados. Quero deixar claro que sou defensor de toda a explicação teórica e conhecimento sobre as diversas rotas metabólicas que norteiam a Bioquímica, no entanto, essa explicação teórica deve sempre aliar-se ao entendimento de que a Bioquímica tem um impacto direto na vida cotidiana e na prática profissional de várias áreas, desde as áreas da saúde até às engenharias e tecnologias.

Quando os alunos conseguem visualizar a conexão entre os conceitos teóricos e sua aplicação prática, a disciplina se torna menos abstrata e mais envolvente. Uma estratégia que sempre utilizo em minha sala de aula para tornar o ensino da Bioquímica mais atraente consiste em utilizar metodologias ativas de aprendizagem, como estudos de caso, experimentação prática e tecnologias digitais interativas. A inserção de discussões sobre doenças metabólicas, nutrição, bioenergia e biotecnologia tem me dado um retorno surpreendente, pois com isso, consigo despertar o interesse dos alunos, facilitar a compreensão dos conteúdos e até ser convidado pelos mesmos a continuar em outras disciplinas no decorrer do curso.

Portanto, a Bioquímica, a meu ver, não precisa ser temida. Com abordagens pedagógicas inovadoras e uma maior integração com a realidade dos alunos, é possível transformar o medo em curiosidade e a dificuldade em motivação. Dessa forma, desafio meus colegas professores de Bioquímica a tornar essa fascinante disciplina mais acessível e apaixonante para todos.

Prof. Dr. Ed Carlos Morais dos Santos
Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário Ateneu.
Doutor e mestre em Bioquímica e Biologia Molecular e graduado em Química Industrial.

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